(crônica/verdade)
Anos se passaram. À
tarde de um frio intenso parecia debochar da gente. Frio violento, carrasco,
impiedoso, nunca sentido, que eu me lembre.
Ao sair do Fórum João
Mendes Jr. naquela tarde, me dirigi à livraria Saraiva na mesma Praça João
Mendes, bem defronte ao fórum. Buscava, pela vitrine, algum livro jurídico
relacionado com Filosofia do Direito. Depois de alguns minutos observando,
viro-me para o lado e vejo, de cócoras, um senhor negro com uma mísera camiseta
rasgada, "vestindo" um roto calção. Tremia todo o seu corpo que mais
parecia estar em convulsão irreversível. O rosto, ah! Seu rosto. Além das
vergadas que o tempo lhe infligiu, a barba branca do esquecimento humano cobria
todo seu rosto. O olhar, ah! O olhar triste perdido nas desgraças sofridas
tinha ainda assim vestígios de amor, e pedidos de socorro. Lá naquele canto,
esquecido na vida, via passos apressados, passos largos, passos voltando,
passos correndo, mas não via nenhum olhar, nem mãos amigas, estava tão só, um
descartado da vida. De repente, do meio da multidão, surgiu um homem, um homem
loiro e moço, bem apessoado, com um riso doce nos lábios, vestindo um
riquíssimo casaco de couro parou em frente do mendigo negro, estendeu sua mão,
pegou a mão do homem negro e o levantou. Tirou seu rico casaco e colocou
naquele pobre ser. Ficou ele, então, só com uma rala camiseta, sorriu, apertou
a mão do homem, e, como veio, no meio da multidão, sumiu naquela tarde fria.
Eu disse para mim mesmo, o cara era um anjo, sem dúvida. Caminhei pensativo,
entrei na Catedral da Sé e orei. Era que tinha que ser feito.
Por Fábio Belviso
7 comentários:
Olá, Fabio!
Quando li esta sua crônica lá na página do grupo Memórias de Sampa, no Facebook, me emocionei. E, mesmo sem ter falado com você antes, tomei a liberdade de postar aqui no blog.
Linda sua crônica. Espero poder postar mais textos seus.
Seja bem vindo entre nós.
Muita paz!
Fábio meu amigo, que bom te encontra por aqui.
Esta crônica é um verdadeiro retrato 3 x 4 do cotidiano de nossa Sampa.
Você conseguiu dar pinceladas de amor numa tela de desamor absoluto.
Poesia bruta, concreta e...totalmente humana.
Parabéns.
Volte sempre.
Olá, Fábio. Apesar da dureza desse espetáculo, sempre alguém passa com uma atitude angelical e tenta suavizar um pouco as piores dores que um se humano pode passar. Um abraço. Vera Moratta
Oi Fabio, os Anjos aparecem quando menos se espera.Com certeza é a mando de Deus.Você fez o que eu também faria, orar e orar. Um abraço.
Fábio, seu relato descortina uma cena rara nesta cidade de pedra, também acho que o rapaz loiro seja um anjo bom a nos mostrar que o semelhante merece um pouco mais de atenção, abraos, Leonello Teser (Nelinho).
Mesmo que não fosse um anjo, acho que ele mereceu a prece que vc fez a ele, Fábio. Belíssima crônica, parabéns.
Modesto
Esses anjos bem que poderiam ingressar na politica partidária da nossa cidade e do nosso país, e assim melhorar as condições do miserável e sofrido povo brasileiro, quem sabe assim, eu voltaria a acreditar em políticos como também talvez assim voltasse a sentir alguma vontade de votar em alguém com a certeza de que isso mudaria as coisas. Parabéns Fabio pela bela e humana narrativa.
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