segunda-feira, 29 de julho de 2013

Memórias médicas



Sou um memorialista, não nego, mas nem todas as minhas memórias são de coisas agradáveis. Algumas poucas, bem sei, são amargas e dolorosas, mas não posso me furtar em lembrá-las.
A memória que originou este texto é recente. Aconteceu há poucos dias, mas tenho certeza, será lembrada com dor até o fim de meus dias.
Bem, sem mais delongas, sem rodeios e caminhos tortuosos, vamos ao registro desse episódio constrangedor a que me submeti recentemente.
Quando entramos na “melhor idade” somos obrigados a dar “melhor vida profissional” aos médicos e demais profissionais da área da saúde. Comigo nada é diferente.  Há poucos dias fui a uma consulta com a geriatra que controla minha vida, receitando drogas que possam me manter ativo e independente. Independente até a página terceira, pois ganhei de uns tempos para cá, a companhia constante de minha fiel escudeira em todas as entrevistas médicas que sou obrigado a comparecer.
Necessário registrar que não estou, de forma alguma, reclamando da companhia, mas na presença dela algumas mentiras, ou melhor, algumas ocultações de verdades não mais me são permitidas. Ela não permite e me desmente abertamente.
Pois muito bem. Nessa recente consulta eu já havia decidido que iria comentar de minha preocupação em reativar um acompanhamento urológico, mercê de pequenos probleminhas que vinham ocorrendo. Essa decisão veio à baila na consulta e, questionado, disse que estava inclinado, acreditando ser necessária uma consulta com o especialista da área.
Ela, de imediato recomendou uma colega especialista em Urologia e prescreveu os exames preliminares de sangue e urina que eu devia fazer para apresentar na primeira consulta.
Sabendo ser uma médica quem iria me atender, desarmaram-se as “restrições machistas”. Marquei a data, fiz os exames e esperei o momento da consulta.
Na data aprazada, nos encaminhamos, eu e minha fiel escudeira para o local onde a médica nos atenderia. Lá chegando, bisbilhotei e descobri que a doutora em questão era bem mais jovem do que eu imaginara. Assim sendo, fiquei ainda mais tranquilo. Na certa ela era adepta de procedimentos mais modernos e teria abolido as práticas hediondas de urologistas do passado.
Fui chamado e adentramos ao consultório. Sentamo-nos e o bombardeio de perguntas teve início. Respondia a todas lógico, evitando pintar de vermelho ou ser demais alarmista nas respostas. Evitava olhar para o lado da minha acompanhante para não ver o olhar reprovativo para algumas respostas menos esclarecedoras.
Pronto, a inquisição terminava sem maiores consequências. Analisando os resultados dos exames que eu lhe apresentara, a médica conclui que meu caso não era de extrema dificuldade. Uma acentuada perda de hormônios exigia uma reposição imediata. Outros pequenos problemas deveriam ser combatidos ministrando remédios paliativos.
Convidou-me a médica a acompanhá-la para o outro lado do consultório, sem a minha acompanhante e  pediu-me que deitasse numa maca. Confesso que no momento, dando vazão à minha veia histriônica, pensei, agora ela vai me “abusar”.
Deitei. Pediu-me ela então que soltasse minha cinta, abaixasse a calça e a cueca até os joelhos, dobrasse as pernas e relaxasse o corpo.
Disse, então, a frase mais indesejada “-Fique calmo, não vai doer nada!” e, de imediato, procedeu ao gesto odiado, mas claro, necessário.
Pensei: “até tu, doutora?”. Nem tive tempo de buscar uma resposta mais esclarecedora; ela, como se estivesse ministrando uma aula, foi apalpando, ou melhor, dedilhando e dizendo, aqui está a próstata, não tem nada de anormal, apenas está um tanto alterada devido sua idade.
Terminou a consulta, mandou que eu me recompusesse e disse, vou lhe ministrar uns remédios para o período de um mês e depois, no seu retorno, vamos ver como estará (acho que ela gostou de me dedilhar).
Recebi a receita, agradecemos e saímos. Comentei com a Sonia que tinha sido abusado com muito carinho, no que ela concordou.
E nos dirigimos à farmácia para comprar os tais remedinhos. Foi então que eu percebi que minha urologista era, realmente, uma grande tarada. Um dos remedinhos por ela receitado tinha o custo, absurdo de R$ 269,00. Prova mais do que clara que ela queria mesmo me F......., não comprei o remédio e estou pensando seriamente se irei ao retorno da consulta, uma vez que ainda sou um pobre e remediado aposentado que ganha pouco e não tem reposição de perdas há muitos anos.




Por Miguel Chammas

11 comentários:

Soninha disse...

Oieee...

Pra quem dizia que jamais se submeteria ao exame de toque retal, até que você se saiu muito bem! rss
A pior parte, eu penso que são os preços dos medicamentos, isso sim!
Valeu!
Muita paz! Beijosssssss

Anônimo disse...

Impensável uma coisa dessa.Remédio caro demais que nao faz parte de nenhum aposentado. Triste.
Beijocas
Yvonne

Bernadete disse...

Antes de tudo, ri muito com seu relato, pois você tem a capacidade de transformar em humor um fato sério. Depois cheguei a conclusão, que o abuso mesmo,ocorreu na hora de pagar a conta da farmácia.Pior que ser dedilhado, é meterem a mão no seu bolso. Um absurdo! Parabéns a sua acompanhante, por convence-lo a fazer o exame. Eu ainda não consegui com meu marido. Um abraço aos dois.

margarida disse...

Miguel, nesta boa idade tem sim que ir ao medico e ser dedilhado dos pés a cabeça, isso chama-se prevenção.Parabéns, os homens fogem deste exame. Remédio tem que ser tomado quando há necessidade, o posto de saúde fornece de graça, procure o mais próximo de sua casa. Achei muito engraçado seu texto, mas a coisa é seria e agora você já sabe como é...rsrsr.Um abraço.

Jens disse...

Brrr, camarada Miguel, que coragem! És o meu herói!

Laru disse...

Pois é, Miguel, vc teve a sorte de ter sido uma MÉDICA e não o "Ditão", na primeira vez. Por mais avantajada que seja a médica, é sempre mais delicada na penetração. Eu, com 81 anos já mudei várias vezes de médico, (isso é necessário, senão você fica "gostando" do médico; no seu caso quem não iria gostar seria sua companheira) nunca tive a sua sorte. Com relação ao remédio, uso há muitos anos, Finasterida. Na Ultrafarma o preço é bem mais barato. Cuide da próstata e ela não vai te incomodar. Daí vem o apelido daquele barês, que eu conto em "apelidos...", no falecido SPMC, "disht i gueug". Vou mandar o texto pra Sonia e, aí vc vai saber o significado. Parabéns e abração, Miguelão.
Laru

Wilson Natale disse...

MIGUÉ, Migué:
Agora você sabe que, nem no ... dos outros é refresco! Ahahahahaaaaa!
Poderia fazer um monte de piadinhas, mas não vou. O preço do remédio é dramático.
Procure saber se há um genérico. Senão, vai ao posto saude, faça a inscrição e veja se tem o remédio.
Um dedo ávidamente explorador e devastador, física e moralmente, vá lá. Mas o preço do remédio, não há c... que aguente! Ahahahahaaaa!
De todos os males, este é o menor. Você está bem.
Abração,
Natale

Anônimo disse...

Pois é, Miguel, mas o bom é que você está aí firme e forte. Um abraço. Vera Moratta.

Zeca disse...

Miguel!

Pelo menos você teve a sorte (?!) de encontrar as suaves mãos de uma médica! Embora no final ela tenha feito um rombo... no seu bolso! Pior fui eu, que fui devidamente dedilhado recentemente por um sujeito de dois metros de largura por três de altura. E na saída, me ofereceu aquela manzorra, dizendo: Até a próxima!

Abraço.

Luiz Saidenberg disse...

Câncer de próstata é uma das maiores causa mortis do Brasil. Há muita gente que nunca fez a prova de toque, nem fará- só por cima do cadáver( literalmente). No entanto, esse desconforto é necessário e benéfico, pois com a idade, haja próstata! Abraços.

Luiz Saidenberg disse...

Mas você nada tem a reclamar- a não ser do preço do remédio- pois pegou uma médica. Moça e tarada? Quer coisa melhor? Normalmente, urologistas são homens, e o considerado melhor urologista, por dois anos, que eu saiba, foi o Dr. Demerval de Mattos, luminar da medicina.
Tem 1,90 de altura, e é chamado por amigos de Dr. DeDederval!