sexta-feira, 26 de julho de 2013

Flagrado no ato


A cena é mais que clássica, e já se prestou a muitos contos e mesmo piadas. O cidadão vai para a cama com a amante, no apartamento dela, e eis que o marido volta, depois de perder o avião, ou desistir da viagem. E aí, o outro fica no mato sem cachorro, ou num apartamento sem saída, com uma sacadinha para o abismo, ou coisa assim.
É trágico, ou cômico, ou em dois exemplos, de Fernando Sabino e Luiz Fernando Veríssimo, tragicômico. Mas, no fim essas histórias terminam bem, o que deve ser difícil na dura realidade.Espera-se que este caso também termine numa boa, mas isto vocês vão saber no final.
Meu amigo trabalhava em publicidade, num agencia da Av. Brigadeiro Luís Antonio. Numa pitoresca galeria de esquina. Tinha algum dinheiro e lá o seu charme, e por isto a bela morena engraçou-se com ele. Ela vivia com um senhor considerávelmente mais velho, o de imediato já levanta suspeitas sobre seu caráter. E assim prosseguia o caso. Um belo dia...
Aliás, bela noite. Ficaram de se encontrar após o expediente dele. Mas não é de hoje que agencias de propaganda não respeitam limites de horário. Ele, louco para revê-la, o outro tinha ido para o hospital, e ela estava livre. E o serviço entrando, mais e mais. Tudo urgente, para amanhã.
Passava muito da hora combinada, e não conseguia desgrudar dali. Até que, a deshoras, terminou enfim sua missão. Ela devia estar furiosa, achou melhor ir até o apartamento, que ficava na Alameda Santos, ali perto.
Estacionou e entrou no velho prédio, sem complicações. Naqueles inícos dos anos 70 porteiro, câmera eletrônica, tudo isso era raridade. Chegava-se, e geralmente entrava-se dar sem maiores satisfações. Bateu à porta, e a morena apareceu de baby doll. Puxou-o para dentro.
Mais tarde descansava na cama do casal, e aí, como na história clássica...a chave girou na fechadura da sala! O dono da casa teria tido alta do hospital? Desistido do tratamento, que não era coisa grave? Não havia como escapar. Pior que na crônica de Sabino, em que havia uma sacada com persianas para se esconder, ali não havia nada. A grande vidraça nua dando para o vazio.
Para baixo da cama, se esconder no armário? Complicadas soluções. Na dúvida, aguardou o desenlace. Mas, então, graças, era só a irmã mais nova que voltava do colégio! Meu amigo suspirou de alívio. Recobrou o ânimo, e como escreveu Rubem Braga, " éramos rapazes "!
Respirou fundo, e partiu para o segundo tempo.



Por Luiz Saidenberg

14 comentários:

Soninha disse...

Olá, Luiz!

Que situação, meu Deus!
Nem correndo perigo de serem, efetivamente, flagrados, não desistiram do segundo tempo... kkkkk
Só pensam naquilo! kkkkkk
Muito bom!
Obrigada.
Muita paz!

Miguel S. G. Chammas disse...

Como escrevi noutros tempos, em uma poesia: Vida vivida, vida real, eis um caso da vida, um caso banal.....
Desenlace perfeito e com um toque de suspense. Valeu

Bernadete disse...

Ah esses rapazes!
Que sirva de exemplo para os dias de hoje....muito cuidado com as lindas morenas, louras...As vezes, nem varanda resolve. Lembram-se do filme "A mulher de vermelho"???


Laruccia disse...

Como vai, Luiz? tudo bem, espero. Vc acaba de dar um prelúdio de uma verdadeira tragédia. Dependendo do marido, evidentemente. A expectativa do leitor, ávido de fortes emoções, fica frustada pelo final estereotipado de uma irmãzinha visitando a morena. Deveria ser de alegria pra nós, seus cativos leitores. Conhecendo como me conheço, na escrita do nobre Saidenberg, tinha certeza de um final arrebatador. Porém, o Luiz não quis assim. Tanto melhor pro "D. Juan", decepção pra nós.
Parabéns, Luiz, vc soube levar-nos até a bifurcação da vida, optando pelo mais humano.
Laruccia

Luiz Saidenberg disse...

Lamento, Modesto, se o decepcionei. Se fosse ficção, creio que acharia um final mais espetacular. Mas, foi caso real,e assim se fosse de outra forma, eu não estaria talvez aqui para contar a história. Não fui eu que quis assim, e sim o destino.
E como escrevi, "éramos rapazes". Agora, é muito tarde para repetir tal tipo de aventura. Lamento, meu caro.

Luiz Saidenberg disse...

Mas, agradeço pelo "nobre". Obrigado a todos, meus amigos.

margarida disse...

Saidenberg, olha aí que historia perigosa e emocionante.Este tipo de traição existiu e existe até hoje, infelizmente.Parabéns, ficou muito legal seu texto mesmo com este final. Um abraço.

Wilson Natale disse...

SAIDENBERG:
Porcamiséria! Ahahahaaaaa!
Estava certo o meu tio Amedeo que, certamente por experiência própria, nos dizia: "Cuidado! Quando a "cabeça de baixo" pensa mais que a de cima, tudo pode acontecer"!
Agora,"uma segunda" após uma situação de alta periculosidade, significa que o seu amigo estava totalmente dominado pela de baixo... Ahahahaaaaa! Eita homem que adora morar com o perigo, sô!
Gostei muito!
Abração,
Natale

Felix disse...

Saidenberg muito bom ! o teu texto me faz lembrar um caso quase identico mas so que o marido deu um fraga na esposa com o amante , e foi logo ameacando ... preparece para morrer seu canalha apontando uma arma de fogo . Nisso a mulher com a maior cara de pau lhe diz : faca o que quizer , mas e esse homem e que paga a prestacao desta casa , e este homem que paga o colegio da nossa filha , e ele que paga por todo o sustento desta familia . Então facas o que achar melhor... E o marido olhando o amante nu em cima da cama pede para a esposa : Querida cobra ele por favor que ele vai acabar ficando doente com esse frio tremendo que esta... rs rs

suely aparecida schraner disse...

Ímpetos juvenis, escapadas nem sempre
viris.Parabéns, menino!

Anônimo disse...

Luiz, como sempre, você com casos tragicômicos do cotidiano. Foi muito bom te reencontrar e sempre com muito bom humor. Um abraço, Vera Moratta.

Luiz Saidenberg disse...

Obrigado, amigos. Outro caso real, desta vez mesmo com um amigo, foi bem engraçado. Meu colega estava noivo, e comprou apartamento para o casório. Acontece que foi "mostrar" o ap. para uma coleguinha de trabalho, e aconteceu o previsto. Quando estavam no melhor da festa...adivinhem! Gira a chave na porta; era a noiva que vinha cuidar do recinto.
A outra enfiou-se debaixo da cama, enquanto meu amigo tentava atrair a noiva para fora. Mas mulher tem um faro...foi direto ao quarto e disse- pode sair, que já vi seu pezinho!
Até hoje meu colega não pode passar perto do bar " Pé Pra Fora" !

Zeca disse...

Saidenberg!

Muito bom o seu texto! Você levantou a bola, fez a torcida calar à espera do gol - ou da tragédia anunciada - e na hora do chute... mandou a bola para as alturas, perdendo o gol! Coisas de vida real! Coisas de rapazes! O único jeito seria mesmo respirar fundo e partir para o segundo tempo à espera de um gol inquestionável.
Gostei bastante! E me diverti com a situação...

Abraço.

Luiz Saidenberg disse...

Obrigado, caro Zeca. Quem já passou por esta vida e não viveu...pode saber, mas sabe menos do que eu.Vinicius sabia das coisas!