quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Memórias setentinas



imagem: Restaurante Caravela (1978)

Corriam os anos setenta, mais precisamente o ano de 1978.
São Paulo já era uma metrópole cosmopolita. Trânsito inaceitável. A expressão que corria solta sobre o tema era: “São Paulo não pode parar, o trânsito, infelizmente já parou...” Aliás, ainda hoje essa expressão é largamente usada e, para tristeza dos “videntes”, São Paulo continua andando.
Tem horas que ela se arrasta em congestionamentos de 8, 10 ou mais quilômetros, mas se arrastando ou não, ela não para. Está viva e vibrante.
O trânsito não era o motivo deste texto quando me dispus a escrever, então, voltemos ao tema principal desta crônica.
A Avenida 23 de Maio, pujante, já era a principal artéria de ligação entre o centro e o bairro do Aeroporto.
Lembro-me que tive, no passado, motivos de sobejo para desgostar-me da sua construção. Entre eles, o principal era o nome escolhido. A data de 23 de Maio, para mim era apenas e tão somente o dia comemorativo do aniversário de meu amigo Zilando e eu acreditava ter sido escolhida para nomear a avenida em detrimento ao dia do meu aniversário, dia 26 de Maio. Só tempos depois fiquei sabendo que este nome tinha sido escolhido para homenagear a morte dos estudantes Miragaia, Martins, Dráusio e Camargo, mártires da Revolução de 32.
Muito bem, quem trafegava com certa assiduidade por essa avenida começou a notar que, do lado esquerdo dela, para quem seguia em sentido ao Parque do Ibirapuera, pouco depois do viaduto da Rua Tutoia, um grande canteiro de obras havia se instalado.
Novo arranha céu estaria sendo lançado?  O que seria ali construído? 
Esses questionamentos foram sendo respondidos no dia a dia. Por incrível que pudesse parecer, ali estava sendo construída uma caravela. Certo, uma imensa caravela, com todas as formas idênticas às vistas nos livros de História do Brasil, nas lições do Descobrimento da América e do Descobrimento do Brasil.
Novas questões foram levantadas: O que iria fazer uma caravela naquele espaço de terra sem águas cabíveis para navegar? Será que a caravela estava sendo ali construída para depois ser levada ao lago do Parque do Ibirapuera, único espaço com águas suficientes para aceitá-la?
Depois de algum tempo, tais questionamentos foram respondidos. Num empreendimento fabuloso, próprio da cidade de São Paulo, essa caravela foi construída para receber as instalações de um finíssimo restaurante.
A inauguração foi cheia de pompas e a frequência, depois da inauguração, não era viável às classes mais baixas. Era preciso ter “bala na agulha” para atravessar o portal daquele restaurante.
Eu, já casado na época, não tinha condições de ali fazer uma incursão gastronômica.
Tenho algumas memórias desse restaurante, mas por serem dolorosas e privadíssimas, decidi não escancará-las. Elas continuarão a fazer parte dos meus segredos.
O modismo do Caravelas foi se extinguindo e,um certo dia, suas portas se fecharam para sempre.
Em novembro de 1984, atendendo ao novo modismo da Paulicéia, depois de um investimento de quase meio milhão de dólares, no dia 7 de Novembro, foi inaugurada a LATITUDE 3001, danceteria que oferecia a seus frequentadores, no primeiro e segundo andares, com pistas de dança conjuntos hits da época apresentados em palco suspenso, restaurante e pizzaria, bosque, lago artificial, salão de jogos. Em certos momentos, piratas apareciam em sucessivos duelos. Enfim, o “new wave” e o roque brasileiro mandavam na casa e, como não era essa a minha praia,  nunca me interessei em frequentar essa casa.
Mas, a memória tinha de ser registrada e, cutucado por leitores, cumpri minha obrigação.


Por Miguel Chammas

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Parabéns, Saidenberg!


Uma homenagem merecida



imagem: Conjunto Nacional - Avenida Paulista

Após um período de decadência ele surge imponente e é marcado como símbolo da Avenida Paulista.
Vilma Peramezza, uma advogada de muita competência, entra em cena e, por volta de 1984, inicia seu trabalho como síndica do Conjunto Nacional.
Preocupada com a forma degradante que encontrou o prédio e mais o fato do local se transformar em um ponto negro da cidade, onde alguns desocupados agiam livremente furtando e incomodando as pessoas e somando-se aos moradores de rua que ali encontravam um refúgio para passar a noite, teve a iniciativa firme e muita fé em Deus de recuperar este patrimônio.
Nos projetos que idealizou para sua vida, foi este, o de síndica, que ela abraçou e acreditou que algo de bom poderia ali realizar. E trabalhando com parcerias conseguiu realizar diversas obras de restauração do Conjunto.
Sua meta, no inicio, era focada no ser humano; era com ele que estava preocupada e neste contexto, arregaçou as mangas, colocando em prática suas ações, com sabedoria e muita coragem.
Outra preocupação foi com o lixo que por ali circulava e que era acumulado nos porões do edifício.  Buscou, então, alternativas inteligentes para minimizar este problema e nos anos de 1990 iniciou a coleta seletiva do lixo que o condomínio produzia. Haja trabalho! Mas, um trabalho gratificante e por ser um exemplo para a cidade de São Paulo, pois o trabalho de seleta coletiva do lixo era praticamente uma novidade na nossa cidade, naquela época.
Sempre foi sua intenção melhorar a qualidade de vida das pessoas e, aos poucos, a reciclagem do lixo ganhou força e em 1999 começaram aparecer as primeiras decorações de natal com material reciclável, que eram confeccionadas pelas comunidades carentes e que atingiam milhares de olhares na formosura que o Conjunto Nacional se apresentava. Desde então, não parou mais e a cada ano as novidades surgiam para encantar os olhos de todos nós.
Atualmente, por volta de seis toneladas de lixo são produzidas por dia no Conjunto,  envolvendo duzentas pessoas trabalhando duro em todo o processo, desde a coleta até a separação do lixo.
Ela investiu no espaço cultural e com o tempo ele ganhou força;  foi o grande alicerce e contribuinte para o desenvolvimento do Conjunto Nacional.
A livraria Cultura, antes pequena, também ganhou outro porte e hoje é muito bem frequentada.
Os desafios foram grandes e ela os enfrentou com sabedoria e muita humanidade ao recuperar um local deteriorado e desmoralizado pelos paulistanos.
Passo a passo o Conjunto Nacional foi obtendo o glamour de outrora e acabou influenciando e transformando a nossa querida Avenida Paulista.
Por todos estes anos junto às suas frentes de trabalho, procurou valorizar o patrimônio e seus funcionários e, por estas e outras tantas razões,Vilma Peramezza se torna uma personalidade paulistana pelo trabalho de uma administração limpa e correta.
O Conjunto Nacional, admirado e conhecido por todos, foi tombado e hoje, com orgulho, podemos dizer que ele é o símbolo da Avenida Paulista.
Concordo com o que ela diz: “gente” é a grande riqueza da Avenida Paulista, lá transita “gente” de todos os lugares e, logicamente, passam também pelo Conjunto Nacional, daí seu grande sucesso.
Finalizo com uma citação de Fernando Pessoa, da qual ela dá ênfase: “Deus quer, o homem sonha e a obra nasce”.
Esta é uma simples homenagem à cidade de São Paulo, ao Conjunto Nacional e a nossa querida Vilma Peramezza que, como cidadã, tem feito sua parte. Portanto, merece o nosso carinhoso aplauso.
Que ela continue nos encantando por muitos e muitos anos, eu, os paulistanos e a todos que por ali transitam.



Por Margarida Peramezza

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Uma mulher dinâmica - parte final


A “parte final” acima enunciada, refere~se aos primeiros 5 anos de parque que terminaram com o “batismo” da primeira “dor de cabeça” que sofremos em nome da JUVENTUDE.
Os filhos crescem, Mylenne já com 5 anos, Marcello com 7, Maria com 12, Moacyr com 14 e Maurício com 16 anos.
Vendemos a casa da ruazinha, com dor no coração por causa  do dinheiro gasto com as reformas e o embelezamento da frente da casa, que ficou um “brinco.” Mas, dna. Myrtes, argumentando com o crescimento das crianças,  me convence a ir ver a nova casa (que moramos até hoje), cujo proprietário, não podendo honrar as parcelas e as prestações, nem chegou a morar lá. Fechamos o negócio de venda e compra. Vamos mudar num domingo, utilizando a Kombi. A distância de uma casa a outra é de, mais ou menos, 1 km. e meio.

Estávamos na casa de um amigo, Rubens, apelidado de “Onassis”, (tinha feito 13 pontos na recém instituída loteca e ganho uma boa “fatia” do “bolo”, 700 mil, mais ou menos), contando os motivos da mudança quando recebo um telefonema do Moacyr: “Pai, venha depressa, o Maurício pegou a Kombi e foi contra o barranco da reserva da Light” olhei pra Myrtes, “você deu a Kombi pro Maurício?” “sim, - ela respondeu - mas, ele iria só dar uma volta aqui no parque.”. Sai correndo até lá, (poucos metros da nova casa), e vi o estrago. Ele simplesmente “dobrou” o veículo que nem o carro guincho conseguiu remove-lo. Ele e o amigo não se fizeram nada, não vou entrar em detalhes que a coisa vai longe. Fizemos a mudança com um caminhão, tivemos que alugar outro carro pra transportar as crianças, (a Myrtes tinha que honrar seu compromisso com todas as famílias) e mandamos levar a Kombi a oficina dos “irmãos Metralha”, apelido que dei aos irmãos Yoki, 4 irmãos nisseis que até hoje me sirvo de sua oficina.

Na nova residência, tudo ficou pra traz, não esquecemos ninguém porém, a pequena distância alterou completamente nosso dispositivo em organizar os mesmos folguedos natalinos. Pelo menos, um dos moradores da ruazinha mora lá, até hoje, o prof. Yogiro, já aposentado da USP. Alguns faleceram, a maioria , mudou. Tenho, ainda alguns fatos interessantes ocorridos ali,  que vou relatar nos próximos meses.

Nossa residência, bem maior, espaçosa, sofreu, também reformas. Imaginem se dna. Myrtes iria aceitar as disposições rígidas dos construtores... As mudanças foram feitas e aprovadas até pelos construtores da Continental, que administravam todas as obras. Aumentamos o número de dormitórios ficando 3 suites, uma sala de TV, sala de recepção, ampla cozinha e sala de jantar. Um espaçoso quintal, coberto, com churrasqueira e uma edícula, junto a lavanderia. Na entrada, jardim com estacionamento pra 3 carros. A área tem 16m. X 25m.

Nesta época deslanchamos nas atividades de acampamento, viagens, passeios e o maior dos nossos sonhos: viagens ao exterior. Nossa primeira foi em 1980,  com grupos de turistas pra conhecer México, Miami, Lãs Vegas, New York, San Francisco, Los Angeles. Depois foi Europa, turismo pelas principais  menções bíblicas, como Roma, Jerusalém, Egito, Grécia, Espanha, Portugal, Londres, Edimburgo e....Polignano a Máre.

No próximo 26\01\13, completamos 56 anos de matrimônio, tudo chegando a bom termo com trabalho, dedicação e superando todos os obstáculos que se nos depararam. Isso se consegue com relativa facilidade, desde que contando com uma MULHER DINÂMICA, companheira amorosa em nossa vida, como a minha querida MYRTES. Nossa felicidade é sempre dentro da vontade de DEUS, que nos guia e  fortalece. As vezes parece que ELE nos esquece, mas não, nós é que O esquecemos. Muito Obrigado a todos.


Por Modesto Laruccia

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Irmã caçula

 
Lendo o texto da Vera homenageando sua irmã caçula pelo aniversário, lembrei-me do nascimento de minha irmã caçula.
Numa tarde de inverno, lá pelos idos de 1965, na nossa casa da Rua Umuarama, na Vila Prudente, logo que cheguei da escola minha mãe disse que precisava me contar uma coisa. Chamou-me em seu quarto e, enquanto arrumava algumas roupas na gaveta na cômoda, contou-me que, em breve, teríamos um nenê em casa e que ela, minha mãe, é quem daria a luz a esta criança.
Eu fiquei surpresa e confusa, mas eu queria saber tudo... Quando o bebê viria? Porque minha mãe queria mais um filho? Ela já tinha três.
Ela sentia-se envergonhada e mal me olhava ao falar... Disse que foi Deus que quis assim e pronto. E ela precisaria muito de nós, seus filhos.
Aceitei, claro e me prontifiquei a ajudar no que fosse preciso.
A partir daquele momento, eu não parava de pensar naquele bebê. Como seria ele? Como se chamaria? Seria menino ou menina?
Sentia-me feliz. Afinal, mesmo com meus quase 10 anos de idade, já entendia que era uma verdadeira benção a chegada de uma criança em casa.
Ao longo dos meses, vi o corpo de minha mãe se transformar. A barriga crescia e tinha aqueles sintomas indesejáveis... As náuseas, o desconforto, tudo enfim.
Os meses se passaram, passou o Natal de 1965, o Ano Novo também passou e minha mãe estava cada vez mais bonita, com sua barriga enorme e seu jeito delicado de acaricia-la.
Na manhã de 19 de março de 1966, minha mãe amanheceu já se sentindo mal, com dores fortes na barriga. Ela pediu-me que fosse chamar minha avó (sua mãe) e lá fui eu, correndo para casa de minha avó... Era bem pertinho, na Rua Angelina Techio Cidro, travessa de nossa rua, bem em frente à nossa casa.
Minha avó veio para nossa casa ver minha mãe e logo saiu para buscar a parteira. Era comum, naquela época, as mulheres terem seus filhos em casa mesmo, com a ajuda de uma parteira. Aliás, foi a mesma parteira que já tinha feito os outros 3 partos de minha mãe, em casa.
Lembro-me que fiquei o tempo todo no quarto ao lado, pois minha avó não nos deixava entrar no quarto de minha mãe. Eu sentia tanta dor de cabeça e minha avó me aconselhou a rezar... Sim, a fazer uma prece, para que tudo corresse bem e para que logo o nenê nascesse.
Assim fiquei; o tempo todo do trabalho de parto de minha mãe, no quarto ao lado, rezando por algumas horas.
Foi tão incrível... Assim que escutei o choro do bebê, minha dor de cabeça passou como se tirassem com a mão. Eu queria entrar no quarto imediatamente, mas minha avó não deixava... Pedia para esperarmos o momento certo e nos contou que era uma menina.
E foi assim... Quando a parteira nos autorizou a entrar para ver minha mãe e o bebê, entrei eufórica no quarto. Fui olhando curiosa por todos os lados... Muitos panos, algumas bacias com água e outras tralhas... E o bebê, nos braços de minha mãe que repousava, exausta.
Aquela menininha, tão pequena, iria mudar nossa vida para sempre. Desde seu nascimento me apeguei muito a ela e ajudava minha mãe em tudo o que fosse preciso.
Acabei mimando muito, confesso, mas hoje somos muito amigas.
Amigas e irmãs.
Ela é a Claudia Assis e amo muito.
 
Por Sonia M. de Assis Astrauskas

sábado, 16 de fevereiro de 2013

A peteca

Texto sem edição
 
Na ultima sexta feira quando os foliões ainda faziam seus últimos preparativos para encarar o carnaval paulistano, eu andando pelas ruas da minha Freguesia do Ó, matando minhas saudades do bairro em que nasci e que vivi até meus 38 anos.
Parado em frente a casa em que nasci, agradecendo o privilégio de poder ver aquele o local totalmente preservado e tombado pelo patrimônio, e assim poder me sentir como em um passe de magica de volta aos anos quarenta, quando em 1948 fui conhecer o Estádio do Pacaembu, levado de carona por um vizinho bondoso chamado João Margine, fanático palmeirense que fez tudo para me levar naquele jogo entre o Corinthians e a Portuguesa de Desportos, permitindo assim que eu pudesse ver o meu Timão ganhar de virada de 3 a 2, do forte time da Portuguesa na época e memorizar para sempre a escalação do meu Corinthians de 1948, que era: Bino Domingos e Belacosa, Palmer Hélio Leite e Aleixo, Cláudio, Baltazar, Servilho, Nenê e Noronha, jogo este que por sinal nunca mais esqueci, mesmo estando na época com apenas nove anos de idade, sendo talvez esse o principal motivo, que solidificou e selou para sempre o meu amor pelo Corinthians, amor esse que aumentou ainda mais recentemente com a conquista da Libertadores e do Mundial. Como também a rivalidade e as dores de cotovelais de nossos adversários e eternos rivais.
Depois dessa reflexão diante daquela casa da minha infância, já de volta para o carro ao lado do Jardim que no passado havia sido um campinho, onde eu e meus amigos de infância como também outros marmanjos, jogávamos nossas peladas diariamente, para o desespero das vidraças das janelas das casas dos nossos pais.
Estava para entrar no carro quando vi no gramado daquele agora jardim publico uma peteca.
Ao segurar a mesma em minhas mãos e entrar no carro, comecei há imaginar quantos anos já fazia que eu não via ou ouvia falar de uma peteca.
Distraído imaginei o velho Largo da Matriz de Nossa Senhora do Ó ainda sem asfalto, onde eu meus amigos e amigas ainda meninos, naquelas ruas ainda de terra, e quase sem transito de veículos, jogávamos livremente e sem receio, taco, barra-bol. e muita peteca. Recordei alguns nomes de amigos o Beto seus manos Mario e João Lourenço, Wilson, o Zeca, o Aguinaldo, o Arnaldo e a Cecilia Faria. a Terezinha e o Zelito Simões. o Celso Corradini, a Teresa e o Renatinho Zampieri o Darcy Simões, o Toneca, o malucão do Paraná, o Vieira, o Pereirinha, a Clarice, a Lourdes, o Pedrinho e seu mano Claudio Bicudo, o Elói Siqueira, o Tonhão, o Erci e o Dedé filhos do Seu Caporto, O Nelson e a Terezinha Abate, que depois de casar com o cantor Tony Campelo irmão da Famosa cantora Cely, tornou-se uma atriz Global conhecida como Teresa Sodré.
Segurando aquela peteca achada assim por acaso em minhas mãos. Foi recordando-me um pouco de toda a minha infância adolescência e juventude, nome de famílias conhecidas que nunca mais soube delas, pessoas ilustres, e importantes para o bairro.
Do bondoso e saudoso João Abrão, a muito já falecido, fundador da Contábil Ozanan e presidente dos Vicentinos nos anos 50, grande benfeitor do Bairro, ao qual eu e minha falecida mãe e irmãs, temos eternamente uma divida de gratidão.
Outro que muita gratidão nossa merece, é aquele que em minha opinião foi a pessoa que mais fez pelo bairro até os dias atuais e que merecia pelo menos um busto em Praça Publica na Freguesia, pelo muito que fez e ajudou as pessoas menos favorecidas do bairro, sem querer nada em troca, e que mais tarde morreu pobre praticamente só e esquecido, já que era oriundo de Portugal e não tinha familiares no Brasil, seu nome, Joaquim Fernandes.
Recordo também aqui do saudoso e querido Professor Salvador Ligabue, talentoso artista pintor, que imortalizou com sua arte em tela, cenários e flagrantes da antiga Freguesia dos meus tempos de menino. Atualmente no bairro existe um Centro Cultural que leva o seu nome, nada mais justo.
Em fim, quantas recordações uma saudosa peteca nos traz, se eu pudesse voltar ao passado eu diria a todos eles, que eu estou com muitas saudades, uma grande saudade de todos eles.
 
Por Arthur Miranda

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Histórias vivivdas em hospitais de São Paulo

 
imagem: Hospital Iguatemi - Butantã
Texto sem edição
 
Olhando pelo janelão do hospital, vejo claramente a escadaria que leva à praça Santo Agostinho, à igreja e ao colégio... Lembranças chegando...
Faz tempo, muito tempo, eu ainda usava calças curtas, cinto de couro, suspensórios, sapatos pretos e meias compridas brancas - um boné ou um capacete de massa, do tipo que os ingleses usavam na Índia, da Ramenzoni, claro. Dependendo do tempo ou do clima, albornozes, quipás ou filás de minha infância, a cabeça estava sempre coberta, como a proteger meu 'ori' ou como sinal de temência a Adonai/Jeovah, Allah, Deus (já repararam que nas fotos antigas de grupos familiares, amarelecidas pelos anos, os homens posam sérios, de cara fechada, terno completo, chapéu coco, corrente de relógio cruzando a frente do colete e cofiando seus longos bigodes, sempre sentados; as mulheres em pé com seus rostos tristes, as crianças com as melhores roupas, as meninas com enormes laçadas de fita, tipo butterfly, presas com 'ramonas' no alto da cabeça, os meninos com chapéus desabados ou bonés, tendências fashions dos anos 20?
Peço desculpas pela digressão; não sei o porquê dessas lembranças, talvez a visão do meu antigo colégio e da igreja de Santo Agostinho me fizeram criar analogias idiotas sobre cabeças cobertas, fotos em sépia, sei lá)!...
Situações esquecidas vêm à tona, (o(h) tempora, o(h) mores)!; o que seria um 'bom-lembrar-se', do meu ponto de vista, hoje, em pleno século XXI, do alto de minha septuagenaridade, vejo que as coisas não eram bem do jeitão que se costuma idealizar; aqueles bons tempos não eram tão bons tempos como são apregoados hoje em dia, mas é melhor deixar prá lá, tempos idos, tempos vividos, cada tempo tem seu tempo, palavras do velho Conselheiro Acácio; vamos deixar o menino do início dos anos 50s em seu passado e passemos ao que eu queria escrever, botar prá fora...
Meus pensamentos idiotas são interrompidos por uma voz educada, meio afeminada: "Hora do banho, 'seu' Joaquim...", voz de um Auxiliar de Enfermagem do turno, sujeitinho simpático, sorridente. seus 19, 20 anos, quase imberbe, ainda tendo muito a viver, a aprender; segura as manoplas de minha cadeira de rodas, parece pretender me levar de volta para meu leito...
- Me deixa mais um pouco aqui, 'mermão'!; tem tempo, não 'tou' tão precisado de banho agora...; tem um pessoalzinho na Enfermaria mais necessitado, aquela turma do peito esburacado...
- 'Tá'!... Depois, então, eu venho buscar o senhor, depois dos curativos...
- Legal, não esquenta a cabeça..
Ter feito parte da honrada e sofrida corporação da Enfermagem durante bastante tempo tem lá suas vantagens, algumas prerrogativas, principalmente quando se está em 'decúbito dorsal' em algum leito de hospital, doente, evidentemente. No meu caso, um terceiro infarto acabou me levando para a Beneficencia Portuguesa onde passei por um festival de angioplastias em uma semana, com implante de stents por parte de uma equipe competentíssima de prospectadores de coronárias. O pessoal de enfermagem, meus colegas, me tratou de maneira um pouquinho diferenciada, nada exagerado, apenas um pouco mais de carinho...
- ...fica de olho nesse 'nego véio', êle é dos nossos... é enfermeiro das antigas... é corintiano, não deixa êle fugir...
- Ah! é?... é corintiano, é?, por isso que o'relógio' dele ameaçou parar, 'tava 'cos' 'cano intupido'...
- ...querem saber duma coisa? Vão à merda...colegas...
Aposentado, longe do meu ambiente de trabalho, sinto saudades da faina diária, dos colegas, das colegas, dos cheiros, dos ruidos de um hospital. O fato de estar internado me faz lembrar situações pelas quais passei, uma delas, por exemplo:
- O senhor que é o 'seu' Joaquim?
- Sou eu...
- Eu precisava de um favor seu...
-???
- Minha irmã é freira... Trabalhou muito tempo na cozinha do Hospital Matarazzo, mas 'tá' velhinha, coitada, 'tá' com cancer - coisa feia, está internada no Iguatemi... Será que o senhor podia dar uma atençãozinha especial prá ela? O senhor também trabalha lá, né?
- Trabalho sim, mas não é favor, colega... nós vamos dar um atendimento prioritário à freirinha... fica frio...
-...ela 'tá' morrendo, 'tá' sofrendo muito...
Eu trabalhava no HC e no antigo Hospital Iguatemi na Francisco Morato, a 3 quarteirões de minha casa, fins dos anos 70s; naquele dia , quando assumi meu plantão, procurei de imediato a enfermaria onde estaria a freirinha.
Achei um feixe de ossos com monitoração, eletrodos fixados num torso onde as costelas pareciam perfurar a pele, olhos destacando-se num rosto encaveirado, sondas, tubos, venóclises, flebotomia, facies doloroso. As colegas do plantão faziam as anotações dos sinais vitais quando ela 'parou' na minha frente , assim, num estalar de dedos, num 'clap'!, com os alarmes do monitor soando ininterruptamente. Médico, residentes, enfermagem, correria organizada, tábua de ressuscitação, 'carrinho de parada'; ambu, massagem cardíaca, desfibrilador, adrenalina direto no coração, conversas e orientações em voz baixa, esperança: "ela está voltando...vai voltar, vai voltar, vai voltar", segura, segura, segura, se ajuda, menina!, força, força!,..."; vejo uma colega dando nós nas pontas do lençol nos 'pés' da cama, ela meio-sorri e dá uma piscadela para mim como se estivesse dizendo: "no nosso plantão essa não 'viaja'; os lençóis estão amarrados nos pés da cama!" (simpatia para 'segurar' vivo o paciente terminal durante o plantão - pronto, não deveria mas acabei revelando um dos segredos mais bem guardados daquele pessoal da enfermagem que, verdadeiramente, põe a mão na massa, nós, os técnicos e auxiliares de enfermagem!).
Resumindo a ópera: a freirinha foi ressuscitada, ficou internada na UTI durante uns 15 dias, voltou para a enfermaria e, deu aquela melhorada que prenuncia o fim de tudo, dizem que é a melhora prá morrer!
- 'Seu' Joaquim, o senhor deu um murro no meu peito, um, dois murros e começou a massagear... eu vi tudo lá de cima, aquele montão de médicos e enfermeiros, uma correria... eu estava voando... fazia muito frio... entrei num lugar 'que nem' um buraco escuro e aí vi minha mãe e meu pai, bem mocinhos, meu tio que veio da Itália em 47... ele perdeu uma perna na guerra da Abissínia mas estava com as duas, bem mocinho também... muitos parentes que já tinham morrido... então voltei para a enfermaria... todo mundo desapareceu... vocês estavam rezando, eu ouvia dentro da minha cabeça... tinha uma menina que estava chorando... o senhor mesmo chorou depois, que eu sei,o senhor e o meu médico, o Dr. X (não vou nomear o médico que atendeu à freirinha; hoje êle é um dos figurões da medicina, cuida de presidentes, governadores, políticos, chefia hospitais de referência, coordena planificações na área da saude em âmbito nacional)...
Alguns dias depois ela partiu... Tínhamos sido orientados a não tentar nenhm procedimnto heróico para trazê-la de volta... dormiu e não acordou...
A partir desse acontecimento mudei minha maneira de ver às coisas insólitas. No que eu não acreditava, passei a acreditar... Não discuto, não faço proselitismo, tenho minhas convicções... não me impressiono mais quando, em sonhos (sonhos?), vejo meu pai, meus avós, ou pessoas que devem estar ligadas à mim, de uma maneira ou de outra...
- 'Seu" Joaquim, seu médico autorizou o senhor a sair da cadeira... pode tomar seu banho em pé, sózinho...
- Graças a Deus... não 'tava' aguentando mais esse negócio de cama, cadeira de rodas... tem sabonete no banheiro?
- No seu criado mudo...
- Voce viu se minha esposa trouxe minhas dentaduras?
- '...tão no postinho, vou buscar...
- Obrigado...
...e tem a história daquela mulher toda de branco que de vez em quando é vista rezando no corredor do setor de queimados do HC ou rezando na capela ecumênica, na laje, acima do 10º andar... Qualquer dia desses, se eu tiver ânimo, posso falar sobre ela ou lembrar de mais alguma coisa!
 
 
Por Joaquim Ignácio de Souza Netto

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Eu agradeço

 
imagem: Parque da Independência - SP

Me chamo Maria Cristina de Angelo e moro na cidade de São Paulo.
Eu tenho pensado nas pessoas que me somam. Naquelas que perdem seu tempo e energia comigo, insistindo de várias formas, para que o meu riso seja constante e as preocupações, pequenas.
Tenho pensado naquelas pessoas que me pegam pela mão e me ajudam a atravessar abismos.
 
Eu tenho pensado nas pessoas que fazem abrigo no coração, pra eu morar. Naquelas que tecem milhares de sorrisos no meu rosto. Naquelas que constroem inúmeras certezas em cima do meu medo. Naquelas que falam bonito, depois de uma tempestade emocional desabar sobre o meu quintal. Naquelas que plantam pés de esperança, no vaso de entrada, pra encantar meu olhar.
 
Por aquelas pessoas que não desistem de mim, eu agradeço.
 
Por Maria Cristina de Angelo

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Parabéns, José Carlos!


Salve 2013

 
COMO NOSSO MUNDO NÃO ACABOU
2013 COMEÇOU ENFIM!
MAS 2012? ESTE SIM!
LITERALMENTE ACABOU
E SE NÃO ME ENGANO
FOI BEM NO FINALZINHO DO ANO.
UM ANO TOTALMENTE CORINTIANO
GANHAMOS O BRASILEIRO
INVICTOS A LIBERTADORES
DEPOIS LÁ NO ESTRANGEIRO
DE PRESENTE DE NATAL
TROUXEMOS O MUNDIAL.
E ENTÃO COMEÇA A DANÇA
DE ESPERAR O NOVO ANO
COM RENOVADA ESPERANÇA
DEPOIS DA GASTANÇA DE NATAL
JÁ DE OLHO NO CARNAVAL
QUE SÓ CHEGA EM FEVEREIRO
DEPOIS DAQUELE AGUACEIRO,
VIVENCIADO POR NÓS EM JANEIRO.
E ENQUANTO A GENTE DESCANSA
TIRA-SE ALGUM DA POUPANÇA
PARA SERVIR DE SUPORTE
JÁ QUE NEM TODOS TEM A SORTE
DE GANHAR A MEGA-SENA.
PARA ENCARAR SEM SURPRESAS
AO ARRASTÃO DE DESPESAS
QUE SEMPRE DESABA NA GENTE.
BEM NO INICIO DO ANO.
É IPTU, IPVA, MATERIAL ESCOLAR.
 
E A GENTE SEM MAIS NENHUM PRA GASTAR
ACHANDO QUE ESSE NOVO MINIMO,
CHEGOU JÁ BASTANTE VELHO,
RESOLVE SEM MUITA ALEGRIA
PREPARAR A FANTASIA
PARA ENCARAR O CARNAVAL
COM OS OLHOS BEM ABERTOS
E ÀS VEZES MOVIDO DE FARISAICA DEVOÇÃO
ESPERAR A SEMANA SANTA
QUE É MAIS UM GRANDE FERIADO
QUE A GENTE SAI QUINTA A NOITE
E SÓ VOLTA NA SEGUNDA.
E AÍ ABRIL CHEGA LOGO
E COM ELE O TIRADENTES
TRAZENDO TAMBÉM SEU FERIADO
QUE JUSTO EM 2013.
VAI CAIR BEM NO DOMINGO
E ISSO EU ACHO UM PERIGO
DEVERIA SER PROIBIDO
HAVER FERIADOS AOS DOMINGOS.
MAS NÃO FICO PREOCUPADO
EM MAIO TEM MAIS FERIADOS
E JUSTO O PRIMEIRO DELES
É O DIA DO “TRABALHO”
CAI BEM NO PRIMEIRO DE MAIO
E QUASE CHEGANDO AO FIM
VEM O CORPUS CHRISTH
QUE CAI NUMA QUINTA FEIRA
ENTÃO MATAMOS A SEXTA.
MUITA GENTE ATÉ SE ESPANTA
SÓ VOLTAMOS NA SEGUNDA.
IGUALZINHO A SEMANA SANTA.
VOU FALAR MUITO POUCO
DE JUNHO, JULHO E AGOSTO.
MÊS QUE NÃO TEM FERIADO
NEM MERECE SER CITADO.
EXCEÇÃO AO NOVE DE JULHO
QUE EU CITO COM MUITO ORGULHO
QUE É UM FERIADO PAULISTA
NOSSO TORRÃO TÃO AMADO.
SALVE O SETE DE SETEMBRO
NOSSO QUERIDO FERIADO
QUE ESSE ANO TRAIU A GENTE
E COMO O DOSE DE OUTUBRO
RESOLVEU CAIR DE SÁBADO.
IGUAL AO TRISTE FINADOS.
VAI FAZER EM NOVEMBRO
QUE AINDA TEM UMA FOLGA
QUE PODE VALER A PENA
DIA 15, DIA DA NOSSA REPUBLICA
COMO ESSE DIA CAI DE SEXTA
A GENTE SAI, E SÓ VOLTA SEGUNDA.
E ENTÃO VEJAM SÓ QUE IRONIA,
JÁ TEMOS O NATAL DE VOLTA
E UM NOVO ANO TAMBÉM
E ASSIM “TRABALHANDO”
DANDO DURO
FEITO UM BURRO
DE JANEIRO A JANEIRO
MEU DINHEIRO VOU JUNTANDO
ATÉ MEU DECIMO TERCEIRO.
PRA GASTAR TUDO OUTRA VEZ
E FICAR DE NOVO DURO
NO INICIO DO ANO QUE VEM.
 
Por Arthur Miranda (Tutu)