sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Eleições, um trabalho voluntário.



Tenho lembranças positivas das eleições do passado e isto se deve ao meu pai. Estudado que era e com forte sentimento de solidariedade adquirido na sua trajetória de vida, lá no bairro onde morava, gostava de praticar a cidadania ajudando e orientado os menos favorecidos e todos aqueles que queriam saber o local de votação.
Naquele tempo nem todos tinham acesso a essa informação como temos hoje, mas o Sr. João, por ter sempre em mãos o Diário Oficial do Município de São Paulo, com toda sua seriedade, educação, respeito e muita paciência, montava lá na rua de casa um posto de informações úteis para todos que passavam por ali antes de votar.
Ele não fazia propaganda de candidatos e não influenciava as pessoas, seu trabalho era simplesmente voluntário e apenas de orientação de como e onde votar.
Estava sempre de olho nos candidatos na época das eleições e para fazer sua escolha, usava do que mais gostava de fazer, a leitura. Era leitor de todos os jornais e revistas da época, além de participar dos comícios, quando eram feitos próximos de casa.
No bairro da Penha, normalmente o comício era realizado no largo oito de setembro. Nada de palanques pomposos, barulho ou poluição visual. Pelo contrário. No momento certo, reinava o silêncio para que os eleitores pudessem ouvir com clareza as promessas dos candidatos.
Uma ocasião ele foi assistir o comício do Ademar de Barros e outra vez o de Jânio Quadros. Não me lembro, mas, acho que naquele tempo era inexistente a participação das crianças e das mulheres neste movimento.  Já em casa, com as cédulas dos candidatos nas mãos, meu pai argumentava muito bem sobre os discursos eleitorais da época.
O dia da eleição era muito importante para nós e todos os eleitores, e eu mediante todo este movimento, já percebia como era importante a escolha de um candidato. 
Logo cedo, meu pai colocava a pequena mesa que tinha no seu escritório na calçada, bem em frente de casa. Sobre ela reinava o Diário Oficial, que, por sinal, era bem grosso, e uma régua para ajudar na leitura das zonas eleitorais e seu endereço. Esta mesa tinha duas gavetas, em uma delas ficavam as cédulas dos candidatos e na outra, papéis cortados de sobras do seu trabalho. À mesa, sempre havia uma pessoa adulta, meu pai, um dos meus irmãos mais velhos ou algum de seus ajudantes que trabalhava no seu escritório. Para mim, que ficava sempre a volta da mesa, restava apenas entregar as cédulas que as pessoas pediam,  um trabalho pequeno, mas de grande importância.
A rua de casa ficava movimentada e na mesa formava fila, porque os eleitores da redondeza iam lá para saber seu local de votação. Se não me falha a memoria, a prefeitura colocava  a serviço da comunidade  outros postos distribuídos pelo bairro, mas lembro mesmo o do meu pai, que era simplesmente voluntário, onde as pessoas saiam agradecidas pelas orientações que recebiam.
Este movimento era durante o dia todo e só terminava com o fim do horário de votação.
Por fim, chegava a hora de recolher a mesa e todos terminavam o trabalho com a sensação de dever cumprido. E meu pai ficava orgulhoso por ter colaborado mais uma vez nas eleições.
Esta cena foi repetida por algumas vezes sem que eu chegasse a sentar na cadeira principal desta mesa, porque tudo ficou mais evoluído ao ponto de meu pai não precisar mais fazer este trabalho.
Minha contribuição de fato nas eleições foi em outro período, quando a escola em que eu trabalhava passou a ser zona eleitoral. Como funcionária municipal, dedicava 8 horas de trabalho neste dia, orientando pessoas  para  que todos os eleitores pudessem votar tranquilamente. No final do dia via renascer o sentimento de outrora: o de dever cumprido.
Guardei na memoria este trabalho voluntario em torno desta mesa que fez parte do cenário na rua de casa e destes momentos de quando as eleições eram consideradas importantes por todos os cidadãos.
Hoje, estou aposentada e não trabalho mais nas eleições, mas, sempre que elas acontecem, o cenário do passado se torna presente e tenho saudades, acreditem!

por: Maegarida Peramezza

13 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Marga, texto esclarecedor e bastante oportuno para a época.
Nossas memórias registram passagens da historia contemporânea.

Arthur Miranda disse...

Margarida, belo texto sobre as eleições passadas onde as pessoas dirigiam-se para seu local de votação com muita esperança em seus partidos e candidatos, depois veio à ditadura e por vinte anos nos roubou esse direito e essa nossa alegria de participação coletiva de exercer a cidadania. E assim depois das diretas a decepção de escolher o Tancredo da oposição à ditadura, e ter que aguentar o Brasil governado pelo José Ribamar "vulgo Sarney" que apoiava a ditadura, e que até hoje continua governando o nosso país. Criando assim um novo sistema de ditadura, que obriga todo presidente eleito no Brasil a distribuir cargos ou fazer concessões e negociações ilícitas para poder governar, negociações essas que gerou esse vergonhoso escândalo do mensalão que na realidade já havia sido posto em pratica pelo PSDB em Belo Horizonte e depois implantado no âmbito nacional pelo PT. Deixando assim todos nós eleitores desiludidos e sem vontade de ir às urnas, Acredito que um homem como seu pai estaria morrendo de desgosto de tudo isto, como tenho certeza que todos os brasileiros conscientes de sua cidadania devem estar sentindo. Parabéns pelo excelente e agradável texto sobre as eleições do passado ainda tão presente.

Zeca disse...

Margarida!

Belo texto sobre uma época que, certamente, jamais retornará! Hoje as pessoas já não sentem o mesmo prazer que movia o senhor seu pai. Naquela época ainda se podia acreditar nas promessas (não em todas!) dos candidatos, coisa que hoje é só "pra inglês ver!"
De qualquer forma, era uma época em que ainda mantinhamos uma certa inocência, uma forma de vida mais simples, uma proximidade maior e mais humana para com o próximo. Infelizmente aquela foi uma época que nossos filhos e netos jamais poderão testemunhar!
Tá vendo só o que fez o seu texto? Despertou o meu saudosismo! E só posso agradecer pelos bons momentos que me proporcionou - com a leitura e, depois, com as divagações...

Abraço.

Modesto disse...

Pois é, Peramesa, eu tambémtrabalhei duas vezes, em 1964 e 1968 (mesário e presidente)posso te garantir que, de fato, emocionante. Tinhamos que, realmente trabalhar, nada de eletrônica, eratudo nas cédulas. Parabéns pelas recordações, Margarida.
Modesto

leonello Tesser (Nelinho) disse...

Marga, boas lembranças eleitoreiras, eu também trabalhei em 3 eleições no Colégio Maria Imaculada lá pelos anos 60, graças à gentileza das Madres nós tínhamos um bom almoço com direito a um copo de excelente vinho do Rio Grande.- Me lembro ainda da primeira eleição para presidente da república após o fim da ditadura Vargas, longa fila se formou no Grupo Escolar Visconde de Itaúna e tudo era demorado fruto da falta de prática do pessoal, bons tempos, abraços, Leonello Tesser (nelinho).-

margarida disse...

Arthur, com certeza meu pai estaria chocado com os tempos atuais. Quero agradecer pelo comentário e ainda dizer que foi seu texto publicado anteriormente que avivou minhas lembranças motivando-me a escrevê-las.Muito obrigada e um grande beijo para vocês.

margarida disse...

Miguel, muito obrigada pelo seu comentário sempre muito bem vindo. Um grande beijo para vocês.

margarida disse...

Zeca, muito obrigada e você tem razão, naquela época reinava uma certa inocência naquilo que acreditávamos e nossos filhos e netos só mesmo terão conhecimento através das nossos historias. Muitíssimo obrigada e um grande beijo.

margarida disse...

Modesto, muito obrigada pelo comentário, uma honra para mim. Espero que a Mirtes esteja bem, um grande beijo pra vocês.

Margarida disse...

Nelinho, que sorte a sua ter um bom almoço, neste dia. No tempo em que trabalhava, também fazia questão de oferecer para todos convocados um almoço, fora suco e café durante todo dia. Todos agradeciam esta gentileza, muito obrigada pelo comentário. Um grande beijo.

Wilson Natale disse...

PERAMEZZA:
Texto delicioso!
Nele, tudo o que vai escasseando hoje em dia: CIDADANIA E SOLIDARIEDADE!
Desde cedo aprendi aquilo que vai-se esquecendo nestes tempos:Que o cidadão tem direito! E, também deveres e obrigações!
E, como você, aprendi em casa.E foi muito bom.Pois, um dia, o dever me chamou e de suplente de mesário a presidente de mesa, passei um bom tempo no TRE.
E, como você, também guardo ciosamente, as figuras familiares que, na prática, nos exercitaram para que fossemos Cidadãos!
Pena que as figuras paternas, falimiares vão abandonando as suas proles...
Abração,
Natale

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

É meus amigos, o que me impressionou nesta eleição foi o elevado número de abstenções, será que os números estão corretos? se estiverem é um mau sinal pois quem se omite não tem o direito de reclamar e o que é pior: colabora para que sejam eleitos àqueles que por mais 4 anos podem piorar ainda mais e vida de todos, na minha idade já não sou mais obrigado a votar mas não posso deixar de dar a minha contribuição para procurar eleger um candidato que possa tentar resolver a infinidade problemas que a nossa cidade tem.-

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

É meus amigos, o que me impressionou nesta eleição foi o elevado número de abstenções, será que os números estão corretos? se estiverem é um mau sinal pois quem se omite não tem o direito de reclamar e o que é pior: colabora para que sejam eleitos àqueles que por mais 4 anos podem piorar ainda mais e vida de todos, na minha idade já não sou mais obrigado a votar mas não posso deixar de dar a minha contribuição para procurar eleger um candidato que possa tentar resolver a infinidade problemas que a nossa cidade tem.-