domingo, 27 de maio de 2012
Revitalização do Parque Dom Pedro II
imagem: Projeto Revitalização Parque Dom Pedro II
Os pequenos detalhes da vida
diária são invisíveis... Até que tem de ser mudados! É isso que vai acontecer
com o processo de revitalização do Parque Dom Pedro II, aqui em São Paulo.
A proposta deste projeto é reintegrar a área verde ao entorno, melhorar o sistema viário e ocupar com equipamentos de educação e serviços os espaços que antes pertenciam aos edifícios São Vito e Mercúrio (que foram demolidos para o início desta revitalização). Seu entorno compreenderá o Mercado Municipal, as ruas 25 de Março, da Figueira, do Gasômetro, Maria Domitila e os Bairros do Brás, Pari e Cambuci. Será construído um pontilhão sobre o rio Tamanduateí que interligará esses 3 bairros ao centro da cidade. Haverá um maior número de estacionamentos para abrigar os veículos de pessoas que frequentam o Mercado Municipal que é, já, um tradicional "ponto gourmet" desta cidade.
Onde hoje é o terminal de ônibus do Parque Dom Pedro II, haverá uma lagoa - cercada de vegetação - e foi projetada para, além de embelezar a paisagem, absorver as águas das chuvas e pôr fim às inundações naquele lugar. Também foi projetado um terminal de ônibus para atender a Feirinha da Madrugada, que é realizada de segunda a sábado, das 3.00 h as 10.00 h, no Brás, onde são comercializadas roupas, tênis, perfumes, bolsas, acessórios etc.
Este é um projeto de uso misto! Como entendê-lo? É como reconstruir um bairro ou cidade, sem, no processo, destruí-los. Serão projetados prédios, residências urbanas (algumas restauradas), outras novas, com escritórios, lojas, jardins, cinemas... Haverá uma unidade do SESC e outra do SENAC. A ideia toda centraliza-se em torno de gente: gente a pé, não dentro de automóveis, não fugindo de carros para poder circular!
Em todos os atos possíveis, será conservado o passado... O passado da nossa cidade e, em particular, do meu chão ; não só porque é um lembrete de nossos começos mas, também, por questão de comodidade e variedade. Ele terá tantas formas, tamanhos, estilos e faixas de preços que atrairá todos os tipos de moradores: jovens casais, famílias grandes, solteiros, aposentados.
Esperamos que seja íntimo, cálido, iluminado, aberto, com lugares para sentar dentro e fora dos prédios, residências e, principalmente, lugares onde as crianças possam brincar!
Será uma pequena cidade ou comunidade e, se der certo, será construído um número suficiente delas, interligadas, como elos numa corrente, criando um novo tipo de cidade grande dentro desta metrópole imensa. Espero que tudo dê certo.
A proposta deste projeto é reintegrar a área verde ao entorno, melhorar o sistema viário e ocupar com equipamentos de educação e serviços os espaços que antes pertenciam aos edifícios São Vito e Mercúrio (que foram demolidos para o início desta revitalização). Seu entorno compreenderá o Mercado Municipal, as ruas 25 de Março, da Figueira, do Gasômetro, Maria Domitila e os Bairros do Brás, Pari e Cambuci. Será construído um pontilhão sobre o rio Tamanduateí que interligará esses 3 bairros ao centro da cidade. Haverá um maior número de estacionamentos para abrigar os veículos de pessoas que frequentam o Mercado Municipal que é, já, um tradicional "ponto gourmet" desta cidade.
Onde hoje é o terminal de ônibus do Parque Dom Pedro II, haverá uma lagoa - cercada de vegetação - e foi projetada para, além de embelezar a paisagem, absorver as águas das chuvas e pôr fim às inundações naquele lugar. Também foi projetado um terminal de ônibus para atender a Feirinha da Madrugada, que é realizada de segunda a sábado, das 3.00 h as 10.00 h, no Brás, onde são comercializadas roupas, tênis, perfumes, bolsas, acessórios etc.
Este é um projeto de uso misto! Como entendê-lo? É como reconstruir um bairro ou cidade, sem, no processo, destruí-los. Serão projetados prédios, residências urbanas (algumas restauradas), outras novas, com escritórios, lojas, jardins, cinemas... Haverá uma unidade do SESC e outra do SENAC. A ideia toda centraliza-se em torno de gente: gente a pé, não dentro de automóveis, não fugindo de carros para poder circular!
Em todos os atos possíveis, será conservado o passado... O passado da nossa cidade e, em particular, do meu chão ; não só porque é um lembrete de nossos começos mas, também, por questão de comodidade e variedade. Ele terá tantas formas, tamanhos, estilos e faixas de preços que atrairá todos os tipos de moradores: jovens casais, famílias grandes, solteiros, aposentados.
Esperamos que seja íntimo, cálido, iluminado, aberto, com lugares para sentar dentro e fora dos prédios, residências e, principalmente, lugares onde as crianças possam brincar!
Será uma pequena cidade ou comunidade e, se der certo, será construído um número suficiente delas, interligadas, como elos numa corrente, criando um novo tipo de cidade grande dentro desta metrópole imensa. Espero que tudo dê certo.
Enquanto pudermos sonhar haverá a
alegria de raspar, silenciosamente, a superfície do mundo entre o céu e a terra,
mas, também, controlando, voando, embora curvando-nos ao sabor do vento (e da
vontade de nossos políticos)!
Por Lia Bia Ferrero
Uma atitude pouco recomendável
imagem: bairro do Ipiranga
Lá pelos idos dos anos 40 eu e meus amigos frequentávamos o
clube no Sacomã, nossos programas de diversão eram muito limitados devido à
idade, um cinema, passeio na quermesse, parque de diversões e eventualmente um
bailinho na casa de alguma garota, assim, durante um dia da semana íamos ao
clube para assistir aos treinos do pessoal do basquete e do vôlei para ter uma
distração à noite.
No mês de junho o clube realizava as tradicionais "festas juninas", já em maio alguns sócios ensaiavam no salão a dança da "Quadrilha" para se apresentarem afinal na festa, o grupo era composto por rapazes e garotas que se reuniam 1 vez por semana para o ensaio e nós ficávamos de fora, assistindo, lá no salão o mestre ia dando as ordens: "Balancê", "Caminho da Roça", "Trocar de Parceiro" e assim a coisa funcionava com o pessoal dançando ao som de músicas próprias das época.
Certa noite um dos meus amigos, cujo nome peço licença para não mencionar, trouxe uma garrafa do vinho Castelo embrulhada num saco de papel pardo, fomos ao bar e adquirimos algumas garrafas de soda limonada da Antarctica e lá fora, no pátio, fomos tomando o vinho misturado com soda (os copos foram emprestados pelo dono do bar pensando que só íamos tomar o refrigerante), não preciso dizer que a maioria dos meninos ficou "alta" após tomarmos aquela mistura, pois ninguém ali era dado ao consumo de bebida alcoólica; devolvemos os copos e as garrafas vazias da soda limonada, a garrafa de vinho deixamos num canto do pátio, em seguida fomos ao salão para assistir o ensaio da tal quadrilha.
Mas, vejam vocês o que a bebida pode causar; devido ao nosso estado de euforia começamos a tumultuar o ensaio fazendo piadas com o movimento dos dançarinos. O mestre do grupo continuava marcando a dança: "Balancê", "Caminho da Roça", etc. Eis que, de repente, o meu amigo que trouxe a bebida disse-nos que estava "cheio" de ouvir aquelas mesmas palavras em todos os ensaios e, surpreendentemente, após o mestre dar a ordem de "trocar de parceiro" ele gritou: "Todo Mundo Pelado".
Foi um protesto geral, a música parou e o ensaio também, alguns até ameaçaram a nos agredir. No final, fomos conduzidos à sala da diretoria e lá queriam saber quem de nós havia gritado. Alegamos que não sabíamos, pois eram muitos garotos (não queríamos acusar o amigo); assim, os diretores resolveram nos aplicar uma suspensão de 90 dias por falta de decoro. Ficamos proibidos de frequentar o clube por todo esse tempo e, o que foi pior: sem mais uma fonte de diversão. Foi sem dúvida uma atitude pouco recomendável, coisas da mocidade. Ainda bem que meu pai não ficou sabendo!
No mês de junho o clube realizava as tradicionais "festas juninas", já em maio alguns sócios ensaiavam no salão a dança da "Quadrilha" para se apresentarem afinal na festa, o grupo era composto por rapazes e garotas que se reuniam 1 vez por semana para o ensaio e nós ficávamos de fora, assistindo, lá no salão o mestre ia dando as ordens: "Balancê", "Caminho da Roça", "Trocar de Parceiro" e assim a coisa funcionava com o pessoal dançando ao som de músicas próprias das época.
Certa noite um dos meus amigos, cujo nome peço licença para não mencionar, trouxe uma garrafa do vinho Castelo embrulhada num saco de papel pardo, fomos ao bar e adquirimos algumas garrafas de soda limonada da Antarctica e lá fora, no pátio, fomos tomando o vinho misturado com soda (os copos foram emprestados pelo dono do bar pensando que só íamos tomar o refrigerante), não preciso dizer que a maioria dos meninos ficou "alta" após tomarmos aquela mistura, pois ninguém ali era dado ao consumo de bebida alcoólica; devolvemos os copos e as garrafas vazias da soda limonada, a garrafa de vinho deixamos num canto do pátio, em seguida fomos ao salão para assistir o ensaio da tal quadrilha.
Mas, vejam vocês o que a bebida pode causar; devido ao nosso estado de euforia começamos a tumultuar o ensaio fazendo piadas com o movimento dos dançarinos. O mestre do grupo continuava marcando a dança: "Balancê", "Caminho da Roça", etc. Eis que, de repente, o meu amigo que trouxe a bebida disse-nos que estava "cheio" de ouvir aquelas mesmas palavras em todos os ensaios e, surpreendentemente, após o mestre dar a ordem de "trocar de parceiro" ele gritou: "Todo Mundo Pelado".
Foi um protesto geral, a música parou e o ensaio também, alguns até ameaçaram a nos agredir. No final, fomos conduzidos à sala da diretoria e lá queriam saber quem de nós havia gritado. Alegamos que não sabíamos, pois eram muitos garotos (não queríamos acusar o amigo); assim, os diretores resolveram nos aplicar uma suspensão de 90 dias por falta de decoro. Ficamos proibidos de frequentar o clube por todo esse tempo e, o que foi pior: sem mais uma fonte de diversão. Foi sem dúvida uma atitude pouco recomendável, coisas da mocidade. Ainda bem que meu pai não ficou sabendo!
Por Leonello Tesser (Nelinho)
domingo, 20 de maio de 2012
Mais 3 belos textos
Olá, amigos!
Abaixo, 3 belíssimos textos de nossos queridos Arthur Miranda, Miguel Chammas e Teresa Fiore.
Entrego-lhes, com meu carinho de sempre.
Muita paz!
Beijo!
Abaixo, 3 belíssimos textos de nossos queridos Arthur Miranda, Miguel Chammas e Teresa Fiore.
Entrego-lhes, com meu carinho de sempre.
Muita paz!
Beijo!
A minha escola
imagem: Instituto Feminino de Educação Padre Anchieta
Naquela época,
sete anos era a idade para entrar no 1º ano primário e eu já estava matriculada
no Grupo Escolar do bairro, quando a família soube que, naquele ano, iriam
abrir o Jardim da Infância na Padre Anchieta e as vagas seriam preenchidas por
sorteio. Fui inscrita e depois, sorteada; e então, eu 60
anos atrás, orgulhosamente, ingressava no Instituto Feminino de Educação Padre
Anchieta! A melhor escola do bairro e uma das melhores do Estado.
Aquele
prédio imponente ficava no final da Av. Rangel Pestana, protegido por muros
baixos guarnecidos por grades de ferro, provavelmente feitas pelos artistas do
Liceu de Artes e Ofícios. Na frente havia um jardim com palmeiras e
salgueiros-chorões. Atrás do prédio, um pátio imenso e era lá que passávamos a
hora do recreio, brincando e correndo à sombra dos jacarandás-mimosos, que
faziam com que nosso chão ficasse como que coberto por um tapete de pequenas
flores roxas, das esguias palmeiras e um lindo ipê amarelo ao pé de uma das
escadas externas.
As
escadarias davam para esse pátio e em frente a elas é que as meninas do
Primário formavam as filas quando era dado o sinal anunciando que já era hora
de entrar para as salas, nunca antes de cantarmos o Hino Nacional e, nas datas
cívicas, os hinos correspondentes. O que eu mais gostava era o Hino à Bandeira,
com letra de Olavo Bilac: “Salve lindo pendão da esperança...”
Perdemos
um bom pedaço do recreio, depois que construíram o “prédio novo”, assim chamado
por todos. Ali ficavam, pela manhã, as meninas do Ginasial e, à tarde, as do
Normal.
Fui
aprovada no exame de admissão e tive o privilégio de fazer o ginásio naquele
“templo do saber”, como dizia o hino daquele instituto de educação. Cada
matéria, um professor: era o máximo para uma menina como eu. E, menina como eu
era, fiquei perdida com tantas matérias e tantos professores. Uns adoráveis,
outros nem tanto; os bonzinhos e os bravos; os que dominavam a classe com mão
de ferro e outros que eram dominados pela classe.
Jamais
esquecerei a minha professora de Latim – Dona Linda – brava que só ela. Em
todas as aulas havia chamada oral e o tema variava entre os neutros da terceira
declinação e os adjetivos de segunda classe, passando pelas conjugações verbais
e os pronomes relativos. Tudo na ponta da língua, pois na primeira vacilada, vinha
um zero redondinho. Apesar do regime de terro, tenho saudade dela, pois aprendi
Português via Latim.
Por
outro lado, nosso professor de Francês – Monsieur Zezinho – era uma tristeza:
não tinha didática, não dominava a classe, ninguém prestava atenção à aula e
fazia o que queria. Tanto é que uma vez, a inspetora de alunos viu que eu
estava lendo na aula. Era “O Diário de Uma Jovem”, de Anne Frank, que havia
tomado emprestado da Biblioteca Mário de Andrade, mas ela o apreendeu e disse
que só devolveria depois de falar com a bibliotecária da escola para saber se
era adequado para a minha idade. Nunca mais li um livro em sala de aula.
Entre a
Dona Linda e o Monsieur Zezinho, havia outros tantos professores inesquecíveis
que ficarão eternamente gravados na minha lembrança.
Entre
uma aula e outra, havia um rápido intervalo para a troca de professores, mas no
meio do período, tínhamos trinta minutos de recreio que serviam para comer um
lanche rapidamente e aproveitar para jogar queimada ou brincar de pegador, que
era proibido. Algazarra no pátio não era permitida; só na aula de Francês.
Era bom
também ficar no grêmio, onde havia uma mesa de pingue-pongue, uma vitrola, alguns
LPs e era lá que aprendíamos a dançar rock’n’roll. As mais velhas ensinavam as
menores e nossos ídolos eram Elvis Presley, Pat Boone, Cely Campello, mas já
apreciávamos Maysa, Dóris Monteiro e João Gilberto.
A minha
escola, onde fiquei até terminar o ginásio, deu-me bases sólidas de educação,
disciplina e civismo. Saí de lá porque só formava professoras e não era
exatamente isto que eu queria para mim. Eu sonhava mais alto: queria ser
secretária executiva como aquelas que eu via nos filmes românticos americanos:
eficientíssima e com um chefe maravilhoso, é claro! Aí então, tive que procurar
outros caminhos e conhecer novos professores e novas matérias e mostrar tudo o
que havia aprendido na velha Padre Anchieta, inclusive o rock’n’roll.
Por
Teresa Fiore
Memórias de um rapto amigável
imagem: Instituto Biológico de São Paulo
Sempre
fui adepto de brincadeiras com noivos e noiva, meus leitores já devem conhecer
esta característica mercê de textos anteriores.
Muito
bem, sexta feira passada fui à São Paulo para buscar umas receitas médicas que
haviam sido deixadas para mim no Convênio. Como meu filho, Alfredo,
aniversariou dia 08 de maio, combinamos, então, de nos encontrarmos para por as
conversas em dia e molhar as goelas, um tanto quanto secas pelo papo, com copos
de Itaipavas prá lá de geladas.
Quando
estávamos marcando o encontro perguntei ao Alfredo onde seria o encontro e ele,
de pronto me disse: - Pai, vamos nos encontrar em frente às catracas da Estação
Vila Mariana do Metrô. Conheço um barzinho “da hora” ali perto!
Local
decidido, horário combinado, nada mais havia a fazer do que esperar a data
aprazada.
Dia 08/05
pontualmente às 17h00, cheguei ao ponto do encontro. Meu filho, como soe
acontecer, chegou um pouco (desta vez, pouco mesmo) atrasado. Depois dos beijos
normais encetamos a caminhada até o tal barzinho.
Quando
chegamos ao local, “surpresa!”, era um bar muito meu conhecido anos atrás.
Contei isso a ele e ouvi dele: - Pô pai, onde você não conhece?
Entramos
e sentamos a uma mesinha. Pedimos a primeira birra e começamos a tagarelar.
No meio
da conversa comecei a me lembrar da última vez que ali estive e, depois de
algumas gargalhadas, decidi contar ao Alfredo o que aconteceu naquele dia.
Foi
assim: Estávamos nos anos 70, não me lembro exatamente a data, sei apenas que
iríamos participar do casamento de um casal de grandes amigos, Valfrido e Léo.
Ele
morava naquela época na Vila Mariana em uma casa no final de uma vila
residencial e a festa do casório seria realizada na sua casa.
No dia,
finda a cerimônia religiosa, nos dirigimos ao local do rega bofe. Lá chegando,
me deparei com o Vado, primo do noivo e também muito meu amigo.
Então,
conversa vai, conversa vem, resolvemos fazer uma brincadeira com o noivo. Qual
seria a brincadeira? Roubar a noiva por uns momentos de boas gargalhadas.
Resolvidos,
esperamos a noiva aparecer no início do corredor da Vila, fomos abraçá-la e com
nossos abraços amigáveis fomos empurrando-a para dentro do meu carro.
A Leo,
baiana arretada, percebeu e aceitou a brincadeira. Entrou no carro. Entramos
também e sem dizer nada a mais ninguém, raptamos a noiva e a levamos para o bar
onde eu estava agora sentado junto com meu filho. A brincadeira não terminou
ali, eu ainda deixei o Vado e a Leo no bar tomando uma caipirinha oferecida pelo
dono do bar pelo inusitado da visita e fui até minha casa no Bixiga Busscar uma
câmera fotográfica para registrar a ocorrência.
Na minha
volta, depois de algumas fotos, entramos no carro e nos dirigimos até o
Instituto Biológico no final da Avenida Conselheiro Rodrigues Alves. Lá
chegando assustamos a Leo pedindo que ela entrasse de sapatos e tudo no
laguinho artificial, mas logo em seguida desmentimos e entrando no carro
voltamos para a casa do noivo que, naquela altura, espumava de raiva e prometia
quebras a minha cara e a cara do Vado. Depois de uns poucos momentos de
suspense o clima desanuviou, o casamento prossegui no meio de muitas
gargalhadas regadas a cervejas e salgados diversos.
Mais uma
vez o bom senso havia prevalecido aos dissabores de uma boa e amigável
brincadeira.
Por Miguel Chammas
Laura, uma esposa norte americana
imagem: Cine Cliper
Flavio
Luiz foi sempre um dos meus melhores amigos de infância e juventude, a muito se
formou engenheiro vivendo desde então nos USA, em 1960 adquiriu cidadania
americana.
Trabalhamos
na mesma empresa, quando deixei a firma em 1953 onde eu era Office-boy e
ingressei no Seminário Diocesano São José em São Vicente – SP, deixei então,
Flavio Luiz em meu lugar.
Estávamos
sempre juntos e só distantes no futebol, (por incrível que pareça em nossa
adolescência acontecida entre 1949 e 1956, o paulistano respirava futebol, eram
times e campos de futebol por todos os lados, quase todos os candidatos
políticos, estavam ligados a times varzeanos, distribuindo camisas e bolas como
brindes a caça dos votos). Flavio não queria nada com o futebol não jogava e
não torcia por nenhum time profissional como também não frequentava ou
assistia, nem mesmo nossas peladas. Eu acho que foi o único amigo que nem tomou
conhecimento ou ficou chateado quando o Uruguai nos enfiou pela goela abaixo
aqueles 2 a 1 no Maracanã na copa de 1950.
No mais
éramos parceiros em quase tudo, bailes pelas redondezas da Freguesia do Ó,
cinemas do mesmo pedaço paulistano, Cine Clipper, Cine Piqueri, Cines Tropical,
Recreio e Carlos Gomes na Lapa, Cine São Carlos na Água Branca, como também
quase todos os antigos do centro velho de Sampa.
Depois
como sempre acontece cada um seguiu o seu caminho, ele foi para a America do
Norte, e eu mudei para outra rua, mas todo final de ano me encontrava com ele,
que nos Natais sempre visitava sua família, foi numa dessas vezes que eu acabei
conhecendo a Laura sua futura esposa, uma Americana muito bonita e que falava
português muito bem, mas com aquele famoso e conhecido sotaque americano.
Acontece
que Flavio e Laura logo depois do nascimento de sua Filha, acabaram se
divorciando de forma não muito amigável e Flavio obrigado a dar um pagamento
mensal a sua filha até a mesma completar 21 anos, (pagamento esse que Flavio
sempre julgou exagerado e bem acima do necessário).
Mas como
com a corte americana não se brinca Flavio Luiz, mesmo contrariado e sempre
reclamando foi pagando religiosamente a quantia exigida.
O tempo
passou a filha completou 21 anos, Flavio então muito feliz por emitir o último
cheque da pensão que paga à sua ex-mulher há exatamente 20 anos e 11 meses.
Pede
então para essa sua filha levar o cheque para sua mãe pedindo para a mesma ao
entregar o cheque para a mãe dizer, que este é o ultimo cheque que ela verá da
parte dele, e que depois voltasse rapidinho e contasse pra ele como ficou a
cara de idiota da mãe.
A filha
entrega o cheque à mãe, ouve o que ela diz e volta para a casa do pai, para
dar-lhe a tão esperada resposta.
-
Diga-me, filha, qual foi à reação da Babaca de sua mãe ao receber o cheque?
- Ela
mandou lhe dizer que você não é o meu pai!
Por Arthur Miranda (tutu)
domingo, 13 de maio de 2012
Não esquentem a cabeça de minha mãe, Dona Zezé
Dia
das Mães chegou, época em que as pessoas homenageiam aquelas senhoras
especiais, diferenciadas, responsáveis pelo surgimento de alguns gênios e
também pelo surgimento de milhões de energúmenos, entre os quais me incluo,
corporativismo puro!... O dia chegou mas não precisava ter chegado ou sido
inventado sei lá por quem, talvez por alguém com nome e sobrenome
anglo-saxônico, algum John Doe, ou Joe Smith, ou Harry Johnson, algum
marketeiro da Harrods ou Macy's da vida! A verdade é que MÃE É MÃE 24 HORAS POR
DIA, 365 DIAS AO ANO E UM DIA A MAIS NOS BISEXTOS! E tenho dito e todas, todas
elas, não conseguem chegar na estação Ana Rosa do Metrô, porque "SER MÃE É
"PA" DESCER NO PARAISO!!!
Aqui
em casa eu preciso lidar com duas mães: a D. Zezé (que vcs devem conhecer de
outras narrativas ) e que me colocou no mundo e a d. Odete, esposa e mãe de
meus filhos (que vcs devem conhecer, etc, etc...)
As
duas não dão moleza; são duas guerreiras (esse negócio de chamar às mulheres de
'guerreiras' já se tornou clichê, mas por enquanto vou usando a frase ou o
"fraseado", como diria Noel Rosa, em seu samba "Arranjei um
fraseado")...
Conto
rapidamente uma hitorieta:
Em
1943 eu era um "lindo garotinho" já bastante modesto (e continuo
modesto, como podem depreender...!), mas os "olhos grandes" eram tão
poderosos que eu caí doente, com um problema renal muito sério, de acordo com
minha mãe. Naquele tempo morávamos em Bauru, interior de São Paulo e fui
transferido para a Santa Casa da Capital. Meu pai ficou trabalhando e minha mãe
veio junto, claro! Caipira de São Manoel, de repente ela se vê na cidade
grande, totalmente perdida. Familias de colegas de profissão de meu pai,
telegrafistas, souberam do problema, via rádio, e se ofereceram para abrigar
minha mãe enquanto eu estivesse em tratamento. Prá ferrar com tudo, de vez, meu
pai foi transferido mais uma vez de cidade. Foi a gota d'água. Minha mãe
"surtou"! Perguntando aqui e ali, chegou aos Campos Elísios: - Quero falar com o Interventor!!!
-
Minha senhora, ninguém chega aqui e fala com o Interventor! Não é qualquer um
que vai chegando e falando com o interventor! " Eu não sou qualquer uma! Eu sou mãe,
meu filho está doente na Santa Casa e essa merda de governo transferiu a gente
novamente de cidade... não aguentamos mais isso! É um desrespeito... "
Sinto muito senhora...
-
Sente muito o ca.............!!!!!!
Enquanto
o bate-boca continuava, alguém avisou o telegrafista que estava de serviço, e
este por sua vez, chamou o mordomo do palácio e explicou o que estava
acontecendo, pois uma pequena multidão estava se formando na Glete com a Rio
Branco e a soldadesca estava ficando inquieta com aquela mulherzinha de óculos
e sotaque caipira...
(Uma parte dessa narrativa foi-me
contada às gargalhadas pelo sr. Benê, que se aposentou ainda no cargo, bem
velhinho, já no palacio dos Bandeirantes, no Morumbi; "sua mãe quase
começou outra revolução!!!, e ria")
Evidente que minha mãe conseguiu o que queria; dentro de um palácio ninguém é
mais poderoso que o mordomo!, elementary, my dear Watson! E foi assim que minha
mãe teve uma audiência, na marra, com o interventor federal Fernando Costa; ela
explicou a situação toda, que não tínhamos roupas, móveis, não tínhamos nada,
em função das remoções quase que trimestrais, tudo se perdendo, se estragando
nos trens de carga, nas mudanças, eu internado...-
Eu não sabia, d. Zezé. Não leve a mal, mas a intervenoria não pode se ocupar
com miudezas; o Secretário de Segurança é quem...
-
Seu Secretário de Segurança é uma besta incompetente, insensível, que só pensa
em manter seu nome nas manchetes e enfiar dinheiro no bolso...
Fernando
Costa não sabia onde meter a cara. Então, fez uma proposta à minha mãe:
-
D. Zezé, a senhora aceita vir prá São Paulo?
-
Se for prá ficar, se vocês não mexerem mais com a gente, claro que aceito, e, além
do mais eu quero total atenção para com meu filho! Ele está doente por culpa de
vocês!
-
Mil perdões, minha senhora. Já vou encaminhar a última transferência do
'Seu" Alcides. Publica no Diário Oficial de amanhã! Vou passar um rádio
prá Bauru, seu marido termina o expediente de hoje e logo-logo ele está em São
Paulo. A Sorocabana vai expedir a passagem...
De
primeira?
-
Não, melhor!, ele vem no Pullman, com leito, restaurante e tudo mais! Ah, sim!
Ele vem prá trabalhar comigo, aqui no palácio. Êle entra de férias
imediatamente prá vocês se arrumar aqui em São Paulo. Qualquer coisa, qualquer
"atrapalho", seu marido deve falar diretamente comigo...
NB:
Minha mãe deve ter acrescentado alguma coisa aqui e ali, mas foi mais ou menos
assim que tudo transcorreu durante a entrevista com o homem mais poderoso da
ditadura Vargas em São Paulo; hoje, quando ela se lembra, comenta comigo, com a
Odete e com os netos e bisnetos:
-
Quando saí do escritório do homem 'tava' quase 'mijando' nas calças. Podia ter
sido presa, falei o diabo pro interventor, pro chefe da Casa Civil... Podia ter
ido parar na ilha das Cobras que nem o Francisco.
(Francisco
Borges, nosso parente, foi capturado em 1932 na Revolução Constitucionalista,
preso e torturado na Ilha das Cobras mesmo após o término da refrega. Teve
fraturas nos ossos da face e assim ficou até sua morte em 1990; nunca quis
cirurgia de reconstrução, teve dores a vida toda, "minhas condecorações
estão em meu rosto", dizia...)!
-
Mãe, não exagera...!
- Tá dizendo que eu 'tou mentindo?
-
Eu não! Não sou louco!
...'tão
vendo, pessoal? Tem mãe que não é mole, ...
E a Odete? Não tem historinha da Odete?
E a Odete? Não tem historinha da Odete?
Da
Odete eu falo qualquer dia desses! Essa é outra praga... adorável!
Por Joaquim Ignacio
Sessenta e dois anos sem Monteiro Lobato
Pela
porta desse prédio passou o corpo do escritor que foi levado a ser velado na
Biblioteca Municipal (Mário de Andrade). De lá, seu féretro seguiu rumo ao
Cemitério da Consolação.
Em um
túmulo de granito negro repousa aquele que viveu, vive e viverá para SEMPRE no
coração e mente das crianças e dos adultos que, como eu, teimo ainda em ser
criança.
Vez ou
outra, eu vou lá, na Consolação, diante do seu túmulo, eternizar a minha
admiração, amor e respeito.
Tento
sempre fazer uma prece, mas não consigo. Ainda há muito pó de pirlim-pim-pim
envolvendo seu local de repouso. A prece não sai. Mas abre-se um portal onde eu
“faço de conta que as contas fazem” e ultrapasso o umbral. E lá vou eu
para o Sitio, viajo ao céu, ajudo Hércules nos seus doze trabalhos, vou
entrando em cada livro e vou incorporado, um a um, cada personagem.
Diluo-me
entre a fantasia e a realidade...
De
repente um risinho maroto me traz à realidade do momento. Incomodado, meu
pensamento pergunta: Quem se esconde atrás dos túmulos e interrompe meu sonhar
acordado?
Novamente
o risinho maroto. Logo uma voz responde: “Sou eu, meu caro leitor, que continuo
vivo em cada criança que me ama e me lê. Criança grande ou não”.
O portal
se fecha e eu volto ao mundo real, com a sensação de já ter ouvido aquelas
palavras, aquele risinho maroto...
Será que
eu ouvi na primeira vez que estive aqui? Nas tantas vezes que estive aqui?
Ou ouço
essas palavras desde sempre no meu coração?... Será?!
Impossível
pensar nisso agora! Estou tão em paz. Tão cheio de alegria a vida!...
E ainda
há tanto pirlim-pim-pim nesse ar...
Wilson Natale
Uma nova experiência, a Morte – Velório
Ao
ler a história de Jose Camargo Beira no site São Paulo Minha Cidade com o titulo “Um
velório nos anos 50”
saltou lá de dentro uma passagem paralela
ocorrida nos tempos de infância.
Meu
primo e eu caminhávamos pelas ruas do nosso bairro Vila Nova Conceição, mais
precisamente pela Rua Natividade, do longe notamos uma aglomeração próximo a
casa de um conhecido. Na frente da casa, um amontoado de gente todas com
semblantes sérios.
Movido
pela curiosidade natural das crianças, resolvemos nos aproximar mas afinal acabamos entrando para ver o que
acontecia. .
Sem
chamar muito a atenção fomos entrando tentando não esbarrar em ninguém. O local
mal dava pra entrar. Mas com jeitinho, ultrapassamos uma muralha de gente.
Estávamos
curiosos para saber do que se tratava.
Ao
romper o ultimo obstáculo, demos de cara com um caixão aberto no meio da sala
com velas e flores. E dentro dele um homem magro e morto.
Se
desse teríamos corrido. Mas não o fizemos.
Tentamos
disfarçar ao máximo o nosso engano tentando fazer cara de paisagem como exigia
a ocasião.
Este
era o meu primeiro encontro com a morte. Até então nunca havia me deparado com
aquele tipo de situação.
Como
a situação era nova, ficamos observando como as pessoas se movimentavam. As
pessoas iam ao encontro de familiares postados ao lado do caixão para receber
as condolências.
Como
já estávamos na chuva resolvemos nos molhar e lá fomos oferecer nossos
sentimentos.
Depois
de fazê-lo demos meia volta em direção a porta para nos retirarmos.
Próximo
ao portão havia uma mesinha para que os visitantes deixassem ali seu nome e
endereço.
Claro
que colocamos deixamos ali o nossos dados.
Naquele
tempo era comum a realização de velório na própria casa onde a pessoa havia
falecido.
Passado
alguns dias, surpreso recebo uma cartinha.
Era
uma cartinha da família do falecido agradecendo a presença ao velório.
Acabei
achando aquilo uma “curtição” com relação ao fato de receber cartas. Pois nunca
havia recebido qualquer tipo de carta.
Um
mês depois, passando numa outra rua, percebemos uma nova aglomeração. Sem
pensar duas vezes, entramos.
As
pessoas nos olhavam com curiosidade, meninos tão jovens, ali participando,
compenetrados no que estava ocorrendo.
Ficamos
a observar tudo que acontecia. Eram choros, lágrimas, pessoas tristes que há
muito não se viam. Abraços fortes.
De
repente uma bandeja atravessa a sala, repleta de sanduíches e sucos. Notamos
que os adultos eram chamados para uma sala ao lado onde serviram licores.
Observamos
que havia um tratamento diferente que não havíamos percebido no velório
anterior.
Para
quebrar um pouco a monotonia do ambiente iam surgindo anedotas e causos
engraçados que ajudavam a espairecer a tristeza do ambiente.
Ao
final deixamos nossos nomes no registro.
Neste
mesmo ano, mais quatro ocorrências como as descritas acima aconteceram no
bairro e lá estávamos nós para levar nosso abraço.
O
lanche também era algo que já era esperado.
Ao
final de um ano recebemos quase sete cartinhas de agradecimento.
Isso
de alguma forma me trazia algum conforto.
Os
adultos pouco explicavam a respeito. Não entendia bem o que significava a
morte, mas de certa maneira me ajudou a aceitar o assunto de forma tranqüila.
Mesmo
com pouco entendimento sobre o assunto, de maneira ingênua levávamos o nosso
conforto “meio maroto”, a essas famílias com respeito.
Mesmo
sendo crianças, aprendíamos de certa forma a encarar o sofrimento alheio.
Hoje
em dia, pelos menos nas grandes cidades, os costumes são outros raramente
se faz um velório em casa.
Anos
depois, estive muito perto da morte em um afogamento e de certa forma pude
encarar o assunto com alguma naturalidade.
Por Luigy Marques
sexta-feira, 4 de maio de 2012
Mais 3 textos... Uhuuuuu!
Olá, amigos!
Ainda na correria aqui... Com minhas viagens a trabalho (muito trabalho) e pouco tempo para outras atividades.
Perdoem-me. Mais um mês e tudo voltará ao normal, assim espero.
Abaixo, 3 textos maravilhosos de nossos queridos amigos, Mário Lopomo, Miguel Chammas e Modesto Laruccia.
Entrego-lhes, com meu carinho de sempre.
Muita paz! BeijosssAUDADEsssss!
Sonia Astrauskas
Ainda na correria aqui... Com minhas viagens a trabalho (muito trabalho) e pouco tempo para outras atividades.
Perdoem-me. Mais um mês e tudo voltará ao normal, assim espero.
Abaixo, 3 textos maravilhosos de nossos queridos amigos, Mário Lopomo, Miguel Chammas e Modesto Laruccia.
Entrego-lhes, com meu carinho de sempre.
Muita paz! BeijosssAUDADEsssss!
Sonia Astrauskas
Super heróis
Dias
atrás, folheando o “Estadão” dei, de cara na primeira página, uma foto dos “4
heróis”, Capitão América, Bat-Man Super Homem e Tocha Humana, pra citar os mais
“recentes” como o Hulk, (parecendo uma broa de milho saindo do forno) , o
esqueite Platinado, (que corre nos fios da rede elétrica, absurdo dos absurdo,
porém, vendo bem todos são absurdos), consagrados no cinema, nas histórias em
quadrinho e TV. Olhando aquilo, fiquei matutando, será que estamos progredindo
ou regredindo? Senão, vejamos, quando tinha meus 7 ou 8 anos me “amarrava” num
gibi qualquer e via nele a maior distração que o homem já produziu. Começava a
ir ao cine Gloria mas, O Globo Juvenil, o Gibi, (diários e mensais) o Guri, o
Lobinho e outras que foram aparecendo, eram, ainda minhas grandes atrações. Na
hora do almoço ou janta, todos se reuniam em volta da mesa, menos eu. Minha
querida mãe chamava, mas, fingia que não escutava, ficava na outra mesa, na
saleta em que minhas irmãs trabalhavam, com o prato na frente, um dia
macarronada, outros, arroz-e-feijão, carne, salada, brodo, verduras, batata
cozida ou fritas, “molignana” (berinjela) e os mais variados pratos da semana,
todos feitos com perfeição e carinho. O número de pratos podia não ser muito
grande mas, o que ela fazia, era perfeito. A Myrtes, minha esposa, aprendeu
com, ela só com as visitas esporádicas que ela fazia. Depois de casada, aí ela
deslanchou, comecei a engordar e não parei mais. Mas, nosso papo era sobre
gibis, e não vamos fugir do assunto, por favor, (é só lembrar das comidas da
mama que a vontade de falar de outra coisa fica por fora).
Como
dizia, com o prato na frente, o gibi escorado por qualquer objeto que estivesse
por perto, (uma caixa vazia, um ferro de passar, uma peça de roupa, uma folha
de jornal amarrotado) enfim, pra escorar a revista não precisa de muita coisa,
é só mantê-la em diagonal, permitindo eu comer e ler ao mesmo tempo.
Era
criticado a todo o momento, meus irmãos diziam que fazia mal a digestão, minhas
irmãs, não diziam muita coisa, mas davam graças a Deus por morarmos em casa
térrea senão, eu poderia me jogar de uma sacada de apartamento, imitando o
Super Homem. Puro exagero. Mas, uma coisa se fazia presença: eram os
preconceitos contra a leitura em quadrinhos. Começaram a surgir revistas com
desenhos italianos, numa publicação do Adolfo Aizem, (não lembro o nome da
revista), trabalhos artísticos de valor insuperáveis, não eram simples gibis.
Quando vejo na primeira página dos jornais estas promoções, fico com vontade de
gritar: “Já passei por isso, é do meu tempo, não do vosso.”
Quem
diria que um dia, minhas preferências em leitura, execradas por todos, servem,
hoje pra embalar no berço crianças e fazer milionários os adultos. Os nossos
heróis, na época, mocinhos, não envelheceram, fizeram questão de se manterem na
mesma faixa afim de continuarem sua missão de voar, viver de baixo d’água,
pegar fogo, corpo a prova de balas, gritar um termo de origem hebraica e se
transformar em um musculoso homem de aço, fazer mágicas em nome da justiça,
viver sempre nas selvas por anos e anos, vestir roupas que parece morcego e por
aí a fora. Que tempo bom, gostoso de se viver, mas...., “pêra aí”, eles estão
ainda aqui, não desapareceram, por que tenho que me lastimar sobre o tempo que
passou? Sabe por que? Porque eles continuam jovens, vigorosos, fortes,
imbatíveis, justiceiros e invencíveis. Estão, até mais bonitos, enquanto eu, o
principal defensor deles, teimosamente agarrado aos seus feitos, ENVELHECI,
porca miséria.
Por Modesto
Laruccia
Memórias acrobáticas
imagem: Prédios da Light e Matarazzo - 1554
Corria o
ano de 1957. Este escrevedor de memórias vivia seus 17 anos de idade e torcia
para chegada do ano de 1958 quando então, com a maioridade completada, poderia
ingressar em cinemas que tinham na programação filmes proibidos a menores de 18
anos, frequentar ambientes noturnos mais sofisticados, exibir seus dotes de
dançarino párea uma nova plateia. Enfim, ver-se liberto dos tabus da
menoridade.
Certa
noite, reunido com os demais membros dos Duques de Piu-Piu, foi decidida a
saída para o jantar em uma churrascaria no centro de Sampa. A escolha recaiu na
Churrascaria Guacyara, estabelecida no primeiro quarteirão da Avenida Rio
Branco, na calçada do lado direito de quem ia do Largo Paissandu em sentido à
Avenida Ipiranga.
Escolha
feita, nos dirigimos para a referida casa de pasto. Saímos da Rua Manoel Dutra
(nosso ponto de reunião era o Bilhar Rex), descemos a Rua Santo Antonio
entramos no Viaduto Major Quedinho, atravessamos no cruzamento da Rua São Luiz
com a Rua da Consolação e Rua Martins Fontes, e entramos na Rua Xavier de
Toledo. Alcançamos a Praça Ramos de Azevedo e nos preparamos para entrar na Rua
Conselheiro Crispiniano quando percebemos uma movimentação fora dos padrões
daquela região.
Pesquisando
um pouco mais percebemos que algumas pessoas desenvolviam um trabalho manual
inusitado para o horário.
Lógico,
jovens e curiosos, fomos averiguar, de perto, o que de fato estava acontecendo.
Vimos que a causa de toda a movimentação era o trabalho de alguns artistas
estrangeiros que preparavam a cena para algumas apresentações acrobáticas que
seriam realizadas nas noites seguintes. Eles estavam promovendo a instalação de
cabos de aço que iriam atravessar o Vale do Anhangabaú no topo do Edifício
Matarazzo (Praça do Patriarca) até o prédio da Light (hoje Shopping Center
Light).
Desnecessário
dizer que nossa curiosidade adiou por algumas horas o alvo de nossa jornada, o
jantar da noite. Ali nos quedamos apreciando, junto com mais uma centena de
transeuntes noturnos, as peripécias que se fizeram necessárias para por a termo
a missão daqueles artistas.
Ao mesmo
tempo em que assistíamos a instalação dos cabos de aço, obtínhamos informações
a respeito do espetáculo. Soubemos então que o espetáculo seria de acrobacia
sobre os cabos de aço e, consequentemente, a travessia da trupe “Zugspitzartisten”, em espetáculo único de
equilibrismo.
Soubemos mais ainda, os artistas iriam precisar de
colaboradores para a venda de flâmulas, lembranças, fotos e outras bugigangas e
sustentá-los com a renda auferida.
Eu, mais descolado e habituado a tais expedientes
j[a me propus a fazer parte desses colaboradores e, enquanto arrecadava
contribuições, além de ganhar uns trocados, veria o espetáculo de locais
privilegiados. Ledo engano, não existiam locais privilegiados. A afluência de
publico foi tão grande, chegou a ultrapassar a case do milhar a cada noite, que
nós, os colaboradores, tínhamos de fazer várias acrobacias para assistir aos
números artísticos e cumprir com nossa obrigação de vender as tais bugigangas.
A cada apresentação, nós nos transformávamos,
também, em acrobatas do solo, para não sermos esmagados pela turba, ou
e3nganados por espertinhos.
Os ganhos daquela empreita foram bastante pequenos
se comparados aos riscos que corremos, mesmo por que tínhamos que, ao final de
cada apresentação, darmos conta de todas as quinquilharias que nos haviam sido
entregues sido confiadas ou do valor das mesmas quando vendidas.
Dinheirinho ganho com suor acrobático
Por
Miguel Chammas
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