segunda-feira, 25 de julho de 2011

Romilda


Enfim, Romilda iria poder realizar seu velho sonho de viajar de Avião. A passagem já estava comprada, marcada e já inteiramente paga com o dinheirinho da poupança que ela abriu na Caixa Econômica, logo no segundo mês que trabalhou como manicure em São Paulo.
Assim que chegou pela primeira vez à São Paulo, a baiana Romilda, depois de uma longa e “confortável” viagem de mais de trinta horas de ônibus pela Rio - Bahia, prometeu a si mesma que, da próxima vez que voltasse a viajar para a Bahia faria o possível para que essa viagem fosse de Avião.
E assim pensando, ela trabalhou firme longos 24 meses como manicure, para sobreviver na Capital paulista e também poder juntar uma grana extra para, nas férias, voltar a Salvador, ver seus pais, sem enfrentar o castigo de mais de trinta horas, sacolejando sem dormir direito naquele ônibus.
E foi assim, depois de muita luta, Romilda conseguiu à duras penas juntar o dinheiro da viagem, do presentinho para os pais e irmãos e roupas novas para essa sua inesquecível viagem.
Então, Romilda tirou suas economias da poupança e, cheia de saudades, fé e esperança, foi ao centro de São Paulo, precisamente na Rua São Luiz, entrou em uma Agência de viagem e comprou sua passagem de ida e volta para Salvador, na sua querida e já saudosa Bahia de Todos os Santos.
Com a passagem comprada, Romilda começou aos poucos se sentir mais importante, como também uma grande vitoriosa, afinal, não é todo dia que alguém recém chegado da Bahia para tentar uma carreira em São Paulo, dois anos depois, consegue voltar para a sua cidade natal, com passagens de avião pagas a vista.
Romilda passou o resto das noites que antecederam a viagem, cheia de ansiedade e muitos sonhos, nos quais, às vezes, ela se via entrando no Shopping Iguatemi, comprando roupas finas, ou então frequentando aqueles salões de cabeleireiros onde ela sonhava trabalhar um dia como manicure de madames. Passeando e entrando em lojas da Rua Oscar Freire e jantando em restaurantes de luxo.
Assim, cheia de sonhos e visões, chegou o dia da viagem e ela com duas malas e uma frasqueira, pegou um táxi na Vila Maria e rumou para Aeroporto de Guarulhos, aonde, com certeza, um Avião da TAM, a conduziria de forma triunfal, de férias para casa de seus pais.
Feliz da vida, desceu do táxi, pagou a corrida, colocou as malas e a frasqueira no carrinho e, sem estar familiarizada com Aeroportos, Romilda chegou ao Balcão da empresa e perguntou entregando a passagem, onde era o embarque.
O funcionário olhando a passagem disse:
- Vôo Doméstico! É portão X.
Romilda, que desconhecia esses termos muito comuns para qualquer membro da (AFA – Associação dos Frequentadores de Aeroportos), sentindo-se discriminada, reagiu dizendo: - Não é domestica não, eu paguei o preço normal pela passagem, não me deram nem desconto.
O funcionário, olhando a passagem, insistiu que o vôo dela era mesmo vôo doméstico, fazendo com que Romilda, revoltada, gritasse que não era doméstica e sim manicure, que a passagem não era para domésticas, que ela havia comprado uma passagem normal e não uma passagem para domésticas, que só havia trabalhado como doméstica alguns meses antes de fazer o curso de manicure.
Foi então que uma comissária, que passava pelo saguão do Aeroporto, carinhosamente explicou que vôo doméstico significava vôos dentro do país de origem e vôos Internacionais quando era feito para fora do País de origem.
Assim, devidamente orientada a respeito de vôos domésticos, Romilda recuperou a famosa calma baiana e curtiu com tranquilidade, na paz e muita alegria, sua primeira viagem doméstica de avião.


Arthur Miranda (tutu)

8 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Romilda voou baixo e quase roda a saia com todas as letras, ou melhor, saiotes, dignos de uma verdadeira baiana.
Voce Arthur, contador de estórias,completou com eximia qualidade a narração dessa passagem.
Plageando um velho bordão: "Continuas o mesmo...."

Arthur Miranda disse...

Quero aproveitar essa oportunidade e deixar aqui registrado os meus mais sinceros votos de muitas felicidades para a nossa querida Sonia "Max Factor" que sempre com muito carinho ilustra como se maquiadora de textos o fosse, tornando bem mais atraente todas as nossas historias. Milhões de parabéns, a você Sonia, e é claro também ao Miguel, viva 26-07-2011
Aceite o nosso eterno carinho, Denise e Arthur.

Zeca disse...

Arthur,

na verdade, salvo os desentendimentos havidos, a Romilda teve muita sorte! Se viajasse num daqueles dias mais congestionados, poderia ter gasto muito mais do que 30 horas para chegar em casa! E sem qualquer conforto!!! Tal o estado em que se encontra a nossa "política aeroportuária", para não falar nas outras políticas, tão desmoralizadas quanto.
Mas parabéns pela bela história, sempre com sua verve humorística!

E pegando carona no seu texto, quero aproveitar para deixar aqui os meus mais sinceros votos de

FELIZ ANIVERSÁRIO!

à nossa querida amiga

SONIA ASTRAUSKAS

que hoje, com as bençãos de Deus, completa mais um ano de vida.

Que O Pai lhe dê muita saúde, paz, alegrias e luz para o seu caminho.


Abraços.

Soninha disse...

Olá, Arthur!

Bacana quando se pode realizar os sonhos... Quando se consegue alcançarseus ideais...
Romila sonhou...Mas,foia além...Não só sonhou.Foi ao encontro do seu sonho e tudo fez para realizá-lo.
E lutou pela sua verdade, mesmo com sua pouca compreensão. Muito bom mesmo!
Nós também não sabemos de tudo e é muito bacana quando alguém nos explica de forma clara para que possamos absorver o ensinamento.
Romilda entendeu e conseguiu ser feliz realizando seu sonho.
Valeu,Tutu!
Obrigada.
Muita paz!

suely aparecida schraner disse...

Linda crônica. Também é comum passageiro de primeira viagem recusar o lanche pensando que tem que pagar. Abraço.

Luiz Saidenberg disse...

Assim é, Arthur. Quem nunca comeu melado quando come se lambuza...e tem muita gente comendo, graças às tarifas baixas e prestações. E os aeroportos soltando gente pelas tabelas, isto enquanto Dona Copa não vem...
Aproveito para mandar por aqui, à grande Soninha meus parabéns e da Márcia. Felicidades, querida amiga! Abraços.

Modesto disse...

É evidente que Romilda deu um duro danado pra comprar a primeira passagem de avião na vida dela. Trabelhando como manicure, deve ter passado o diabo com determinadas clientas que, ao identificar sua passagem com o termo "doméstica", lembrou logo das "madames" (algumas, é claro)com as quais manipulou sua profissão e que lhe deram amargas experiências que a fez jurar a si mesma, nunca na vida seria "domestica" pra tal rançosa cliente. Dai, chamar sua passagem de "doméstica" Romilda subiu a serra. Parabéns, Arthur, linda crônica.
Modesto

Wilson Natale disse...

Arthur,
Tadinha da Romilda!
Passou o maior sufoco e vexame...
Mas deixou uma história hilária que virou sua memória e que além de nos enternecer com a força dessa bahiana obstinada em vencer,também nos faz rir muito.
Abração,
Natale