domingo, 31 de julho de 2011

Palácio da Justiça


Nota administrativa: texto original do autor ,sem passar por edição.

(Outra experiência insólita)

Este fato aconteceu por volta de 2005. Eu ainda não tinha uma digital. Usava a minha velha máquina Pentax com canhão de zoom, alimentada a filmes coloridos da “Agfa”.
Fui para a Cidade fotografar o prédio do Palácio da Justiça. Pensava também na possibilidade de fotografar o seu interior. Principalmente as clarabóias e os vitrais criados pelo Conrado Sorgenicht Jr., dono da famosa e centenária Casa Conrado. Os vitrais dessa Casa estão em todas as obras de Ramos de Azevedo e por toda a cidade, em prédios públicos e particulares. São magníficos!
Fiz as fotos do exterior e entrei. Falei com a responsável e para meu desencanto, eu não poderia fotografar o interior. Para isso havia uma série de procedimentos para se conseguir a autorização. Não poderia fazer fotos, mas poderia visitar o interior e caso desejasse, visitar o Museu do Palácio. Claro que eu queria!
Enquanto a monitora não chegava passeei pelo “hall” – o Salão dos Passos Perdidos, admirando as belas colunas de granito.
A monitora levou-me a visitar o Palácio. Vi os vitrais, as clarabóias; passeei pela Sala do Tribunal do Júri; por salas, saletas e gabinetes. Estava encantado. Tanta beleza e harmonia em um só lugar.
Descemos. Deixei as minhas coisas na sala da monitora e ela me acompanhou ao Museu. Deixou-me lá. Que eu ficasse à vontade, pelo tempo que quisesse. Que quando saísse, passasse pela sua sala, para pegar minhas coisas e alguns “folders”.
Deleitava-me caminhando pelo Museu, admirando os quadros a óleo de juízes e de velhos Presidentes da então Província de São Paulo. Encantava-me com toda aquela parafernália em prata, usada pelos juízes. Lia velhos documentos.
De repente, senti um mal-estar. Uma sensação de desequilíbrio, como se do alto de um edifício eu olhasse para baixo – A tal “atração do abismo”. Olhei ao redor e não vi nada. Mas sabia, havia uma presença na sala que parecia me vigiar. Alguma coisa me impeliu a olhar para a grande mesa central, onde eram expostos pequenos objetos de uso jurídico. Ao olhar para a cabeceira da mesa a vertigem se acentuou. Não via nada. Mas o que estava ali, embora invisível era sólido, muito sólido. Paralisei por um segundo, mas o meu instinto de auto-preservação falou mais alto. De costas, me aproximei da saída e andei apressado pelo corredor, em direção da sala da monitora. Entrei.
A monitora olhou para mim. Seus olhos brilharam de satisfação. Olhei para ela com cara de interrogação. Ela riu alto e perguntou: “Você viu ele”? “Viu o fantasma”?... Pensei : “Filha de uma...”! Respondi com raiva: “Não vi! Mas, que senti a presença dele, eu senti”! Contei a ela o que se passara comigo.
Ela, por sua vez, me contou que muitas pessoas que visitaram o Museu sentiram que havia uma presença na sala. Que outros viram um juiz, com a beca, à cabeceira da mesa. Disse mais. Estranhou que eu demorasse tanto para sair, visto que a maioria saia de lá o mais rápido possível... Disse-lhe que, talvez, por estar interessado nos objetos expostos, demorei a notar a tal presença. Ela riu muito. Eu, bancando o “machão”, dei risadinhas amarelas.
Eu, “el gran cagón”, saí de lá jurando que nunca mais entraria sozinho naquela sala.
A minha experiência foi apenas mais uma entre as tantas que acontecem e aconteceram por lá. Aconteciam muito antes de ali existir o Palácio.
No quadrilátero correspondente a área do Palácio da Justiça, existiu o prédio do Quartel de Linha (inaugurado em 1791). Ali, esteve instalada a Legião de Voluntários Reais. Naqueles tempos, poucos se alistavam voluntariamente. A maioria fugia ao recrutamento. Eram caçados e forçados a servir. Forçados, não tinham escolha: Era servir, ou a forca. E, muitos desses soldados viviam em uma quase indigência dentro do quartel. Enfim, um local de sofrimento que, na mente do povo, era tido como assombrado.
Dizia-se que as almas dos soldados pobres mortos, enterrados como indigentes no Cemitério dos Aflitos, voltavam ao quartel a assombrar o prédio. Dizia-se que muitos soldados - “voluntários” forçados da Guerra do Paraguai, depois de mortos voltavam ao Quartel, onde se tornaram assombrações violentas e acusadoras... Lenda urbana de uma São Paulo Antiga.
A antiga São Paulo dá lugar à São Paulo metrópole. Em 1915 , demoliu-se o velho Quartel de Linha. No mesmo local começou a preparação do terreno para a construção do Palácio da Justiça (anos 20).
Ainda em construção, inaugurado nos anos 30, o Palácio iniciou a sua vida intensa no árduo trabalho de se fazer Justiça. E o passar das décadas o enriqueceu com uma infinidade de histórias insólitas: O pessoal da faxina, vigias, falavam sobre portas que se abriam e se fechavam; passos, vozes e sombras que circulavam pelos corredores. Contavam sobre o barulho das máquinas de escrever, incessantemente “marteladas”, nas salas das Varas. Tudo acontecia na noite e na madrugada. Falavam também, de uma estranha e tênue névoa que se formava no interior do Salão dos Passos Perdidos...
Eu nunca mais voltei lá sozinho!
Por Wilson Natale

13 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Natale, que experiência assustadora. Vc narrando e eu imaginando as suas reações. Ri bastante.
Não é sem razão que vc não queira voltar a fazer nova visita.
Então, me surgiu uma maravilhosa idéia.
Fica decretado que, sem ser a proxima rodada, já que vc estará, ainda, visitando a "velha bota", na proxima rodade que vier a ser programada, caso vc não faça parte, será devidamente amarrado e carregado ao museu do Palácio da Justiça".
Aí, seja o que Deus quiser...

Luiz Saidenberg disse...

Caro Natele, nosso Giulietto degli Spiriti! Você é realmente um sensitivo, talvez um medium ainda não assumido. Bem poderia escrever aqui sobre os fantasmas de São Paulo, os antigos e os mais recentes , que assombram nossa prefeitura e a Câmara dos Deputados, como Maluf- não aquele velho fantasma da R. dos Ingleses, mas o o vivo, que persiste em suas aparições. Gostei muito de seu caso assombrado, e tb do Castelinho da R. Apa. VC é a reeincarnação de Edgar Allan Poe!

Zeca disse...

Natale,

deixando de lado a parte interessante da história, que é conhecer um pouco mais das lendas criadas em torno da nossa cidade, vale ressaltar o talento para contá-la, que nos deixa cada vez mais interessados e sem querer parar de ler. Você tem se revelado um raro talento em suas crônicas! Parabéns!
E agora endosso o convite do Saidenberg: conte-nos sobre os outros fantasmas dos nossos prédios históricos. Certamente serão momentos de raro prazer.

Abraço.

Soninha disse...

Olá,Wilson!

Embora a maioria das pessoas não acredite, estamos sempre rodeados destes espíritos, que nada mais são do que as almas dos que partiram para a dimensão espiritual e ainda ficam entre os "vivos" por diversas razões.
Entendo que eles se fazem presentes para os que tem sensibilidade psiquica para tanto...É o que chamamos de mediunidade ostensiva,pois que,na verdade,todos somos médiuns,com graus diferentes de sensibilidade.
Mas,isso é assunto para outra hora.
Que aventura esta sua,heim?!
Adorei! Deve ter sido fantástica!

Mudando um pouco de assunto, fiquei feliz em saber de sua viagem à Itália, pela região da Sicilia,na ilha de Taormina. Que legal!
Só lamentamos sua ausência,uma vez mais, no encontro das redondas no próximo dia 12/08.
Mas,não faltará oportunidae,com certeza.
Boas férias.Boa viagem de regresso.
Muita paz!

Laruccia disse...

Natale, fantasmas no Palácio da Justiça, não é de estranhar muito. Mas, não são as almas penadas de pessoas que não queriam se alistar e sim de juizes que mandavam estes coitados pra forca, afim de se mostrarem simpáticos com o império português, pra não dezagradar o governo representante desse mesmo império. Mais tarde, quando construiram o atual Palácio, os desmandam, além dos juizes, foram dos advogados que, defendendo assassinos e extrupadores, quando morriam, suas almas se encontravam com as do antigo império. Aí, resolveram assustar visitantes, como no seu caso, por que eles não tem mais onde ficar pois, a cada dia que passa, os que vão morrendo (só os de conciência pesada), querem participar da gosação e não tem mais lugar pra alma alguma, O Palácio da Justça tem, pelos meus cálculos, cemtenas e centenas de juizes e advogados esperando uma vaga. Por isso que eu sempre digo que advogacia não é uma profissão e sim, um sacerdocio. Os poucos que cumprem com as leis e sabem, perfeitmente que a lei não foi feita pra ser aplicada e sim pra ser interpretada, gozam das benesses divinas por terem sido justos nos julgamentos e a levesa de suas almas, alçam para junto de Deus no merecido descanso na eternidade. Os de almas pesadas, não saem da praça Clovis. Bevilaqua.
Fiquei sabendo agora, pelo Miguel, que vc. vai pra Nápoles. Por favor, de um pulinho em Polignano a Mare, (Bari) bem pertinho. Vc vai ter a melhor surpresa de sua vida. Um abraço e feliz viagem, un bacio intesta, amici. Arrivederci.
Laruccia

Giuseppe Orsini disse...

Natale, voçe deveria ler, se jà nao leu, O Fantasma de Canterville (Canterville Ghost) de Oscar Wilde.
Vai rir muito
Abraços
Pino Orsini

Wilson Natale disse...

Pois é Miguel:
Se pensarmos nos antigos escritórioscom os seus antigos livros de contabilidade, dests livros eu seria o "borrador".
Ahahahahahahaaaaaaaa!
Abração,
Natale

Wilson Natale disse...

Ahahahaaaa! Boa, Saidenberg!
"Giulietto degli spiriti" foi ótimo!
Quanto aos tais fantasmas públicos a quem você se refere, não é caso de assombração. É caso para os Demonologistas. Ahahahahaaaaaaaa!!!
Abração,
Natale

Wilson Natale disse...

Zeca:
Valeu os elogios, que eu não mereço.
Vou exercitado e procurando melhorar cada vez mais. Um dia eu chego lá (risos).
E prometo, tenho dois textos sobre o insólito que, em breve vou enviar para a Soninha,
Abração,
Natale

Wilson Natale disse...

Soninha:
Sabe aquela máxima: Ora e vigia?
Pois bem, de vez em quando eu esqueço dela (risos). E ai, a"coisa" acontece... Ou talvez, sabe-se lá o porquê tinha que acontecer.
De volta da Sicília, onde me senti feliz e aproveitei muito e fiz a minha catarse. Agora e retomar a vida e, se Deus quiser - eu quero - Estarei no próximo encontro.
Abração,
Natale

Wilson Natale disse...

Larù, carissimo:
Valeu o comentário!
Na próxima vez que eu for à Itália eu vou me aventurar pela costa do Adriático e Jônico. Ai vou "fare il baresi" e ver os "Trulli".
Nell'anno prossimo vaddo senz'altro a Bari e a Polignano vedè u San Vitino. Te lo prometo.
Bacione in testa,
Natale

Wilson Natale disse...

Caro Orsini, Li, sim! E adorei!
E você está convidado a contar as suas memórias!
Abração,
Natale

Davi Duarte disse...

Olá, Wilson Natale!

Hoje estive no Palácio da Justica, onde já estive outras incontáveis vezes... A cada visita, descubro uma novidade para mim. Consegui uma foto do vitral do quarto andar (foto de celular, mas tá valendo), antes de ser "SUAVEMENTE ALERTADO" pela segurança do local que não poderia fazer fotos. Fiquei muito triste, pois o prédio é público e como tal, um patrimônio de todos nós. Não entendo o porque de tal proibição, mas, para não ser preso por desacato a autoridade é melhor obedecer...
Mais tarde, em casa, busquei mais alguns textos referentes ao Palácio na internet e encontrei o seu. Muito bacana a tua passagem por lá. Apersar das inúmeras vezes que estive por lá, em nenhuma passei por uma experiência como essa.
Grande abraço e bons ventos/)
P.S.: Segue o link da minha foto:

https://www.facebook.com/photo.php?fbid=597450913682576&set=a.222403644520640.50713.100002530191247&type=1&theater&notif_t=like