Início dos anos 1960, eufazia o
curso de secretariado no período da manhã no Colégio Comercial Frederico
Ozanam, à tarde trabalhava na São Paulo – Companhia Nacional de Seguros, ligada
ao Banco Comercial do Estado de São Paulo, como auxiliar de escritório, e à
noite fazia a Cultura Inglesa.
Era puxado. Não havia tempo para almoçar. Era cachorro quente com
guaraná, na Salada Paulista. Esse primeiro emprego, eu posso dizer, foi um
estágio, pois comecei a usar a taquigrafia e melhorar minha velocidade na
datilografia. Depois, com o diploma na mão, ficou mais fácil conseguir meu
sonhado emprego de secretária.
Essa dureza acontecia de segunda a sexta, porque no sábado vinha a
recompensa e valia realmente a pena.
No segundo ano do curso, começamos a nos preparar para a formatura. Os
rapazes da Contabilidade, que era no período noturno, apareceram para propor
uma reunião de todas as turmas para as comemorações de final de curso. A ideia
era juntar Contabilidade, Secretariado e mais a turma que estava terminando o
ginásio numa só festa. Primeiras reuniões, eleição da comissão de festas, o que
fazer para angariar fundos, sugestões. Enfim, a partir daí começaram a aparecer
as rifas, os bailes pró-formatura, novas amizades.
A escola era para alunos de baixa renda, mas oferecia muita atividade
extracurricular e havia sempre passeios organizados por algum professor, como
uma aula/piquenique, onde aprendíamos sobre tipos de rocha, ou lá no alto do
Pico do Jaraguá, recebíamos informações sobre as trilhas dentro do parque. Isto
é, os professores se esforçavam, mas nem todos estavam dispostos a uma aula em
pleno domingo.
“Nem todos” éramos nós, um grupo à parte, os da comissão de formatura e
vários agregados e simpatizantes. Tanto que um professor uma vez falou que
éramos largados, pois nos passeios da escola ficávamos separados dos outros
alunos.
Acabou se tornando a turma mais famosa da escola e a mais heterogênea.
Começou a se formar a partir das primeiras festas pró-formatura, os primeiros
namoros, os primeiros piqueniques. Se encontraram, foram ficando e não mais se
largaram. Tinham até um hino que dizia “Largados uma vez, largados toda vida.
Largados sem preconceito, somos largados, mas somos direitos. A alegria é o
nosso lema e com respeito não temos problema. Somos largados, somos queridos,
somos largados, mas somos unidos”.
A escola não existe mais, mas há mais de 50 anos se encontram para
celebrar a amizade.
Por Teresa Fiore