sábado, 14 de dezembro de 2013

Memórias Noelistas



Outro dia exatamente igual a tantos outros, nade de novo, nada de diferente, rotina cansativa e desinteressante.
Assim pensava eu sentado, ou melhor, esparramado, no sofá aqui na sala.
-Boa Tarde!
Levanto a cabeça assustado, tinha certeza de que ninguém me fazia companhia. De onde aparecera aquela voz rouca e empostada?
 No canto da sala, bem ao lado da TV, uma sombra foi se fazendo notar e ficando cada vez mais  reconhecível. O que no primeiro instante parecera um borrão vermelho, agora, melhor delineado, se mostrava como o contorno de um imenso e balofo corpo. Dirijo meu olhar um pouco mais para cima e distingo um rosto rosado e bonachão escondido atrás de uma intensa e alva barba e imensos bigodes. Dois olhos azuis e iluminados, quase que escondidos na barra de um gorro vermelho, me olham e transmitem uma ternura jamais vista antes.
Feito o reconhecimento, ainda bastante emocionado com a surpresa, respondi ao cumprimento.
-Boa tarde, Papai Noel, quanta honra! A que devo tamanha gentileza?
-Ho Ho Ho – sorriu fazendo o gesto característico de segurar a barriga com as duas mãos – ora pois.
Se você foi um dos meus representantes durante vários anos, por que não haveria eu de te fazer uma visita de cortesia e, juntos, lembrarmos antigas e pitorescas aventuras?
Refeito da surpreendente surpresa, agradeci a deferência e emendei ao agradecimento um novo comentário:
- Adoro lembrar de coisas passadas, principalmente daquelas que podem nos deixar alegres. Nem sei por que resolvi representá-lo em vários Natais.
- Não sabe? Então não percebeu nunca que tinhas o gene de Papai Noel em sua existência?
- Gene de Papai Noel? Que raio de gene é esse?
- Você herdou esse gene do Alfredo Chammas (seu pai) que, mesmo magrelo, me representava em todos os Natais da ACF-SP, distribuindo presentes em meu nome para todas as crianças. Lembrou agora?
- Lembrei sim; e lembrei também que um dia comentei com ele que, quando fosse maior, iria fazer a mesma coisa.
- Isso mesmo! Assim pensou e assim executou!   Durante muitos anos. Começou com pequenas  participações sem muita evidência, depois atendendo convites foi Papai Noel  do Clube Prada, do Rubro Negro da Bela Vista, depois, para alegrar as crianças, aceitava todo e qualquer convite.
Foi o Papai Noel oficial de todos os Natais das famílias Chammas, Santos Lima, e Avelino.
Puxa vida, é verdade! Quantas vezes eu vesti tua farda vermelha e fui me emocionar com aqueles olhinhos pedintes das criancinhas ávidas por um presentinho.
Nas festas da família, chegava ao romper das 12 badaladas, cumprimentava a todos, distribuía alguns presentes, buscava não ser reconhecido (como era difícil!). A criançada era páreo duro para ser convencida! Cada ano mais esperta. Que sufoco!
- Teve um ano que você, por problemas particulares, decidiu não ser meu representante e colocou seu filho no lugar. Coitado,  mesmo com toda a boa vontade apresentada ele não conseguiu um bom desempenho e abandonou a causa no fim da festa.
- Pois é, Papai Noel, e eu, mesmo querendo me afastar, ainda representei-o por alguns Natais.
- Hoje já não existe ninguém para fazer minha imagem se perpetrar. Para mim, ficou bem mais complicado e difícil.
- Vou confessar uma coisa, velho Noel, eu na verdade sinto muita saudade daqueles dias de Papai Noel, ficaria muito feliz se pudesse voltar a representá-lo e acarinhar os corações infantis.
- É uma pena mesmo, mas você está participando de grupos de mais idade, não tem à sua volta crianças famintas por carinho e atenção... Em todo caso, fica o convite, se quiser voltar, é só buscar quem te queira e recomeçar a brincadeira... Eu ficaria muito feliz!
- E eu também, Santo Velhinho!
- Bem meu velho, missão cumprida! Visita realizada e lembranças reavivadas. Fiquei feliz e sei que também te fiz feliz. Até uma próxima vez.
- Feliz e Santo Natal!
- Amém Papai Noel,  amém!
O vulto se desfez. Foi tão rápido seu sumiço que dos meus olhos rolaram lágrimas de inconformismo.
Emoção à flor da pele, resolvi escrever esta crônica.
Quem sabe, qualquer hora dessas, eu a leia novamente e, num surto de extrema coragem, volte a envergar certa roupa vermelha, jogue por sobre os ombros um saco cheio de pacotes e vá visitar antigas crianças que, hoje, já são jovens rapazes e moças.



Por Miguel Chammas


8 comentários:

Soninha disse...

Olá, Miguel!

Belo sonho, bela história!
Você ainda pode levar carinho, afeto, brinquedos para muitas crianças... Não as de ontem, mas as de hoje. Vista sua velha roupa vermelha, muna-se de muita coragem e caridade e vá às creches, hospitais, asilos, com um mega sorriso nos lábios, com o tradicional ho ho ho e verá quantas coisa boa você recebrá em troca. Gratidão e sorrisos, não há dinheiro que pague.
Muita paz!

Myrtes e Modesto disse...

Eu sabia... eu sabia... então a imagem robusta que sempre me acompanhou, desde 2007, nas dependências do SPMC, era, na realidade o bom velhinho? Por que parar, Mig... quero dizer, Papai Noel? continue, por favor, a boa alma que vc agasalha está sempre jovem e robusta, sabe por que? porque eu quero... afinal, apesar dos meus oitentão, continuo prescindindo do amparo de um abraço e, se possível, um trenzinho pra poder passar as minha horas de lazer. Nessa idade, voltamos a ser criança, Miguel e, portanto, vc deve se por aos nossos anseios.
Linda criação a sua CRÔNICA, Miguel, seu coração está repleto de mensagens de amor e poesia, levando sempre alegria e satisfação a todos nós. Que Deus lhe dê saúde, amor e paz pra muitos e muitos anos, Miguel, sacuda a roupa vermelha, o gorro a barba postiça e mãos a obra.
Um forte abraço a vc, a Sonia e a toda família, que este Natal e o ano novo, lhes devolva todo bem estar desgastados nos últimos anos. Un baccio in testa caríssimo fratelo. Auguri.
Myrtes e Modesto

Luiz Saidenberg disse...

Meu caro Miguel,
isto mesmo! Envergue a fanatsia vermelha e vá preencher as fantasias das crianças, pois estas, mesmo nesses tempos de internet, Aiphone, Aipod, Aiped, Aidenós, ainda anseiam pela existência de um Papai Noel ao vivo, como nos bons tempos. Toca a se espremer pelos umbrais, pelos desvãos, pelas chaminés e teremos a volta de São Nicolau, o amigo das crianças. Ho, ho, ho! Feliz Natal, e para a Sonia Também.
Luiz/ Marcia.

Anônimo disse...

Caro Miguel, vc está com algumas carências,rs. ou então foi um sonho com essa figura ai o Papel Noel. Cara, papai Noel não existe.
Amigo. Já sai de papai Noel na casa do meu sogro para distribuir presentes para meus sobrinhos e filhos pequenos. A voz deveria ser mudada para não ser reconhecido. Mas aquele brilho nos olhos das criancinhas valia a pena representar. Desisti por um motivo. Minha sogra comprou a roupa para mim, mas o tecido era de lã; o calor que fazia era tanto que eu suava chegando a ficar cansado. Roupa de papai Noel deve ser de seda, leve para que o papel seja bem representado.
Sua historia é comovente, esqueça essa da 'carência', pois todos nos somos carentes uns mais outros menos.
O fato é que no Natal a gente sente o cheiro de festa. Ao lembrarmos dos tempos idos quando a gente imaginava ganhar presentes preferidos.
O Papai Noel é um personagem verdadeiro comercialmente...mas as pessoas usam isso para fazer caridade com os pobres, principalmente crianças. Nada tão emocionante como essa época de Natal: casa enfeitada, luzinhas, presépios.
Nossa casa está desse jeito: toda enfeitada; motivo nosso Neto Mateus de um ano e três meses quase. Já anda, mas não fala e quando fala é em um dialeto que quase ninguém entende, menos eu. Entendo tudo o que ele diz. Pois lhe dou atenção, sento com ele, e faço minhas gracinhas. Ele tudo o que faz é gracinha ele é muito querido é o meu primeiro netinho, Mateus filho do Felipe, mas se Deus quiser terei mais desse tipo de BÊNÇÃOS!. É a renovação!
Desejo a você e a Sonia e seus amigos da Praia Grande, um Feliz Natal e que Jesus nasça no seus corações de meninos e meninas.
Abraço
Clesio de Luca (De Floripa).

Carlos disse...

Eu já ganhei muitos presentes desse Papai Noel!!! Obrigado tio!!!
Cadu

Anônimo disse...

Oi tio!

Adorei o texto, lembrei da minha infância e do bom velhinho que sempre vinha nos visitar.
A ideia da Sônia é bem legal, não precisa abandonar essa que cai tão bem. Vc pode ir a hospitais, asilos, creches, levar essa alegria de Papai Noel...
Quem sabe um dia o Arthur venha a conhecer...

Beijos
Te amo!!! Bom Natal!!!

Aretha

margarida disse...

Miguel, que lindas suas lembranças. Adoro esta figura do Papai Noel, ele sempre encanta os corações das crianças.Que belos momentos ocorreram em sua vida! Um Feliz Natal pra você e Soninha.

Wilson Natale disse...

Bravo, Miguel! Belo texto!
Bempre é bom revizitar a magia dos velhos Natais que passamos e que está vivíssimo em nossa memória e coração. Por quê não, vestir-se de vermelho e distribuir toda essa magia - que é pura enrgia positiva - em forma de presentes?
Vai em frente amigão! Você, por si mesmo é o nosso presente de Natal TODOS OS DIAS!
Abração,
Natale