Outro
dia, escrevi sobre o Sr. Alfredo, meu
pai e, com o coração machucado com acontecimentos presentes, não dei o devido
valor a lances memorialistas que me
envolveram as ideias.
Depois
de escrever, já devidamente acomodado no lugar de costume de meu sofá, novos
flashes vieram povoar meus pensamentos. Então, registrei alguns deles no bloco
de rascunhos e, depois, com mais calma, relatei-os neste texto.
Saí
do meu confortável sofá, nada disso, trouxe a mesinha do notebook até a frente
do meu confortável sofá, onde eu estava confortavelmente (redundantemente)
instalado e me preparei para digitar o
texto.
Após
angustiantes 30 minutos, nada havia sido digitado no Word que, à minha frente,
permanecia puramente branco e imaculado.
Lembrei
que até meus quatorze anos, via meu pai com a regularidade costumeira em nossa
casa da Rua Augusta. Todos os dias, quando a noite descia lá fora, ele chegava.
Então, era servido o jantar. Depois da mesa do jantar desfeita, da louça
lavada, minha mãe e minha tia também se sentavam à volta da mesa para uma
conversa informal ou para “assistir” com os ouvidos aos programas de Rádio que
mais nos agradavam, tais como “Balança mas não cai”, “História das Malocas”,
entre outros.
Nessas
reuniões familiares foram tomadas grandes decisões, entre elas as viagens a
Santos, para visitar meu Tio Miguel e minha Tia Maria.
Nessa
casa, que tinha um único banheiro e residiam 12 pessoas, não aconteciam
congestionamentos, tudo caminhava dentro de uma ordem natural, sem maiores
problemas.
Depois,
mudamos para a Rua Major Diogo ao lado do TBC e em cima do Nick Club. Meu pai
ainda se fazia presente. Lembro-me dele amassando a pimenta dedo de moça, no
prato, até fazer um patezinho para, depois, servir-se do feijão e dos demais
complementos.
Lembro
doa seus acessos de tosse todas as manhãs. Tosse que o levou anos depois à
morte.
Nessa
época, começaram a acontecer os primeiros distúrbios no casamento de meus pais.
Foi aí que eu descobri que o grande ideal de meu pai era ter uma filha. Não
podendo realizar esse sonho pelas vias naturais, minha mãe foi atrás da adoção
de uma menina. Adotou uma que foi o xodó dele e dos irmãos, já crescidos.
Ela
foi a única presente à sua cabeceira quando ele desencarnou.
Na
verdade, mesmo sabendo disso, eu nunca senti ciúme da minha irmãzinha. O amor
que lhe dedicava foi motivo de grandes desavenças no meu matrimônio. Minha
“exposa”, ainda hoje jura que ela é minha filha, fruto de uma aventura
passageira. O que não é verdade.
A
grande verdade, que só hoje eu descobri, é que nunca pensei que me lembraria de
verdade do meu pai depois de sua passagem para o outro plano.
Ledo
engano. Lembro-me dele todos os dias quando, em baixo do chuveiro, pego o
aparelho para me barbear.
Aí
a raiva aparece. Por não ter um grande relacionamento com os filhos, meu pai
nunca nos ensinou a forma correta de escanhoar a barba. Hoje eu sofro com isso,
pois lá na minha juventude, sem saber como, eu pegava seu aparelho Gilette e passava na face de todas as maneiras. Isso
fez com que meus pelos da barba tivessem as raízes alteradas. Hoje minha barba
cresce para todos os lados e me judiam quando, nas manhãs, me barbeio.
Pronto,
está aí a pior lembrança que tenho do Sr Alfredo!