Conto
aos amigos uma história.
Os
doze sábios reuniram-se no grande salão para determinarem a contagem do tempo.
O
primeiro deles sentou-se à cabeceira e ordenou a posição dos demais. Passada
esta fase, estabeleceram o nome de cada um e iniciaram a divisão do tempo.
Por
termos 365 períodos, disse o presidente que se chamou janeiro, podemos dividir
naturalmente entre nós de modo a que fiquemos com 30 contas cada um. Dos cinco
que restam podemos dividir entre nós e, já que estou à cabeceira da mesa,
reclamo para mim uma conta adicional pulando cada um de nós de sorte a que os
cinco sejam distribuídos.
E
assim fizeram: Janeiro ficou com trinta e um; deixaram o segundo, que foi
denominado Fevereiro, com os mesmos trinta, deram um ao próximo, pularam o
seguinte, até terminarem as cinco contas restantes. Porém o oitavo participante
não concordou em ficar apenas com trinta e reclamou para si uma conta
adicional, no que foi acompanhado pelo décimo participante e pelo décimo
segundo que, por representar a conclusão do ciclo, também se julgou no direito
a uma conta a mais. Como eram cinco adicionais e precisavam de sete, houveram
por bem deixar o segundo membro mais enfraquecido e lhes retiraram duas contas,
passando este a ficar com miseras vinte e oito unidades.
Descobriram
depois que pequenos pedaços ao longo de algum tempo geraria uma nova conta.
Resolveram então que estes pequenos pedaços seriam dados a fevereiro que as
juntando teria, em certo tempo, uma nova conta. Definiram que o período inteiro
seria denominado ano e cada conta, denominada dia.
Todos
concordes, missão cumprida, retorna janeiro, o presidente da assembleia, e
oferece a palavra a quem quiser se manifestar.
Em
principio houve silêncio, mas, quase no derradeiro instante, fevereiro se
pronunciou.
“Senhores,
eu vos agradeço pela acolhida e escolha a mim reservadas. De início, me
colocastes ao lado do presidente da mesa e me destes o nome mais pomposo.
Torna-me ele o mais imponente e mais respeitado dentre todos. Os escribas terão
mais cuidado em escrevê-lo e tomarão de si mais tempo para fazê-lo.
Colocaram-me
nesta segunda cadeira, onde Aquário, o signo dos gênios, mestres e inovadores,
vai permanecer por mais tempo, todos os períodos do tempo, a cada 365 deles.
Esta
segunda distinção, por si só, tornar-me-ia o mais afortunado entre todos.
Mas,
não é só isso. Lembro-vos que, no Hemisfério Norte, eu abrigarei as futuras
flores. Em mim elas irão se transformando para que, ao alvorecer da primavera,
possam encantar a humanidade e oferecer
aos insetos e pássaros, o sustento ao árduo trabalho destes. E no
Hemisfério Sul? Estarão os frutos hibernando, encorpando-se, para que, ao
outono, possam não só alimentar toda espécie de vida existente no planeta, como
também proporcionar as novas sementes perpetuando a vida de todos.
Eu
vos agradeço senhores pela acolhida e o espaço a mim reservado. Serei o menos
aquinhoado na quantidade de dias, mas resplandecerei em qualidade. Modestamente,
e sem desmerecer nenhum de vós, serei o melhor de todos.
Os
sábios se entreolharam e emudeceram. Ninguém mais usou da palavra, pois nada
mais precisava ser dito. Mudos, retiraram-se todos.
Mal
sabiam eles que, um dia, as palavras daquele sábio seriam concretizadas.
No
quinto dia, num determinado ano da quarta década do século iluminado, nosso
amigo confirmaria o que foi ouvido naquela assembléia.
Nasceu
do amor como todos, caiu e sofreu intempéries como tantos; ergueu-se e venceu
como poucos.
Correu
o mundo, encantou-se com a história, reescreveu a vida, a sua e de tantos a seu
redor.
Ao
seu lado, personagens desfilam sempre alegres, pois apenas refletem o que
recebem. O gesto largo, a voz amiga.
Reuniu
e reunirá sempre, amigos à mesa, estes lhes dedicarão trovas e versos, erguerão
efusivos brindes, disputarão seus abraços, radiantes ficarão com um simples
aperto da mão.
Fez,
a vida toda, amigos e amigos e a estes sempre os tornou melhores.
Trilhou
ruas estreitas e escuras. Seus gestos, porém, as alargaram e iluminaram. Por
certo teve dissabores, desencontros, mas, no zerar das contas, prevaleceu
inteiro. Inteiro e íntegro.
É
modesto sem ser tímido; audaz sem ser imprudente; rico, sem ser egoísta. Referencial,
modelo ímpar de otimismo e perseverança.
Resta-nos
aprender, da melhor forma que pudermos e usufruir tudo que nos é ofertado.
Ergo
um brinde ao amigo Modesto, substantivo e adjetivo ao mesmo tempo. Que ele
possa continuar nesta jornada e que, se por ventura os sábios senhores do tempo
se reunirem mais uma vez, e por qualquer motivo resolverem tirar mais um ou
dois dias de fevereiro, não sentiremos falta pois as qualidades deste amigo
Modesto suprirá qualquer desatino que se possa cometer.
Por José
Carlos Munhoz Navarro
9 comentários:
Zé, às vezes tenho a impressão que você não existe, outras vezes minha impressão é que se você não existisse teria de ser inventando.
Veja, por exemplo, edsted texto em homenagem ao Modesto.Enquanto todos se limitaram a falar xdo homenageado e das suas qualidades. Você criou uma lenda, ednvolveu sábios senhores do tempo e no desfecho, com a maior naturalidade fedz a homenagem e introduziu o velho Mo na estória.
Parabéns amigo, além do Modesto, você, com toda a modestia, ´d o máximo.
Navarro, parabéns por mais um brilhante texto, abraços, Leonello.
Olá, José Carlos!
Realmente, os Senhores do tempo realizaram uma bela gestão de trabalho, subdividindo os ciclos do tempo.
Nos fizeram compreender a necessidade da divisão para melhor trabalharmos a nosdsa própria gestão de tempo.
Que bom que, neste percurso da vida, pudemos nos encontrar, todos nós, pelos laços da amizade.
Obrigada.
Muita paz!
Navarro, você gosta de dar um tempo, e em seguida vem com tudo, muito grandiosa sua homenagem ao Modesto. Achei maravilhoso, infelizmente não pude estar presente nesse encontro com as redondas. e só pude te dar os parabéns pela internet. Então mais uma vez dois enormes P A R A B É N S para você, um pelo seu aniversário e outro por esse seu texto maravilhoso.
Navarro, os Senhores do tempo foram brilhantes e muito mais o Comandante Fevereiro, que modestamente nos presenteou com muitas joias preciosas. Faço um brinde não só ao Modesto, mas também a você, portador de uma sensibilidade grandiosa e abençoada por Deus.Parabéns amigo querido e um grande beijo.
Navarro,quanta criatividade!!! Você feito um mágico, tirou da cartola essa bela homenagem ao Modesto.
Receba meus agradecimentos, pelo prazer dessa leitura.
Um abraço
BERNADETE
Sem mais palavras, encantada com o texto, envio meu respeito ao escritor e ao homenageado.
Parabéns, José, que texto brilhante, lindo, maravilhoso. Estou "embasbacada". Acho que "ler" é melhor do que "escrever" (sem dúvida alguma)! Abraços e ao Sr. Modesto também.
Navarro, sentimos muito sua ausência na noite de 10\02, queria te dar um fortíssimo abraço pelo seu aniversário e pela homenagem a mim dirigida. É bem verdade que vc iria trazer os Senhores do Tempo mas, não tinha problema, havia lugar pros doze, tranquilo. Sua obra encantadora, mecheu seriamente comigo, fiquei embasbacado, quase abobado diante de uma narrativa de cunho trancedental como se fosse uma história arrancada dos tempos imemoriais, culminando com elogios imerecidos ao imodesto. Se não me considero merecedor disso tudo, vou passar a agir de acordo pra merecer os aplausos. Muito obrigado, José Carlos, um forte abraço.
Laruccia
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