sábado, 18 de fevereiro de 2012

Os carnavais de minha infância

imagens retiradas da internet

Antigamente (ponha antigamente nisto), havia o Carnaval nas ruas e nos clubes.
Lembro-me bem... Era criança ainda, devia ter 7 ou 8 anos, morava um casal de irmãos na minha rua (a irmã tinha o apelido de Dona Miloca e o irmão, nós - as crianças - o chamávamos de Seu Miloco). Ele era a nossa paixão. Um Sr. "muito velho", devia ter uns 50 anos, gordo, baixo, barrigudo e que nós adorávamos. Quando se aproximava o Carnaval ele nos chamava e, lá no seu jardim, podíamos escolher confete, serpentina, um vidro de lança-perfume ou um frasco dourado do mesmo produto e um recipiente com um líquido vermelho que podíamos atirar nas roupas das pessoas, aparentemente manchando a roupa e quando secava, parecia que havíamos atirado água (não ficava marca nenhuma). Acho que se chamava "sangue de diabo".
Nossa festa, então, começava uma semana antes. Naquela época as férias terminavam no dia lº de março. Tínhamos, então, 3 meses de férias para brincar de roda, esconde-esconde, amarelinha, tamborete, queimada, chutar bola com os meninos, andar de bicicleta, fazer piquenique no Parque D. Pedro II (sem nossos pais saberem) e, na última semana que antecedia o Carnaval nos transformávamos em “mocinhas anãs”. Depois que tomávamos banho, não nos sujávamos mais... Jantávamos e íamos passear na Av. Rangel Pestana onde havia o famoso "footing", em que moços e moças paqueravam. Ah! fazíamos uma "vaquinha" e comprávamos "batom" e todas usávamos, sentindo-nos moças e andando como tais!
Nosso objetivo não era paquerar, namorar. Queríamos, era, acertar lança perfume nos olhos das nossas inimigas, jogar confete na boca delas quando gritassem e atirar o Sangue de Diabo na roupa "novinha" delas. Isso geralmente acontecia na entrada "bem grande" do cine Piratininga, onde tinha umas colunas imensas - com um diâmetro enorme, onde podíamos nos esconder. Além disso, o chão era escorregadio e deslizávamos como se estivéssemos de patim. Era um Deus nos acuda para "pais e filhas", devido às diabinhas que éramos nós.
Éramos destemidas porque sabíamos que o Sr. Miloco estava por lá e, quanto mais bagunçássemos, ganharíamos outra leva de produtos carnavalescos. O medo que meus pais soubessem o que eu "aprontava" fazia com que eu fosse muito rápida e as pessoas mal notavam minha presença. Só uma vez meu pai ficou sabendo e eu fiquei uma semana de castigo... ah! como eu chorei!
Nos dias de Carnaval pegávamos o "bonde andando". É esse mesmo o sentido: púnhamos calça comprida, pegávamos o bonde quando ele virava na esquina da Vasco da Gama para a Av. Rangel Pestana e íamos fugindo do cobrador (porque não tínhamos dinheiro para pagá-lo). Éramos tantas... que ele se confundia e já não sabia quem havia pago ou não!
Quando chegava à noite, já nos dias de carnaval, ficávamos na beirada da calçada para jogarmos lança perfume e sangue de diabo no pessoal que participava dos corsos.
Pena que isso durou até eu fazer 11, 12 anos... Eu já estava tão alta que parecia a irmã mais velha das minhas amigas! E tínhamos a mesma idade!
Agora é que eu estou pensando... Não lembro que houvesse chuva nas férias! Ela era todinha constituída por dias felizes, ensolarados, céu azul e noites estreladas.

Por Lia Betariz Ferrero

12 comentários:

margarida disse...

Lia, que delicia estes carnavais de outrora. Pelo visto você se divertiu muito nesta época. Eu me lembro das chuvas de verão, eram passageiras e o céu voltava ficar azul e mais limpinho.Parabéns pelo texto e bom carnaval.

Laruccia disse...

Lia, o que vc acaba de relatar é simplesmente minha infância, com a diferença de que a minha foi bem anterior a da sua. Cine Piratininga, bonde na Vasco da Gama, Rangel Pestana, vai-e-vem, tudo bem colocado como era gostoso o bairro do Braz, brincadeiras com lança-perfume, confeti, serpentina, sangue-do-diabo e por aí a fora. Era bem divertido, mesmo, se chovia ou não, a farra era a mesma. Que pena o lança-perfume, metálico da Rhodia ou em frascos de vidro.O nosso divertimento era jogar nas pernas das senhoras sentadas nas portas de suas casas. Elas davam pulos e gritos frenéticos, pensando que aquele "geladinho" era algum bicho subindo pelas pernas. Que pena que tudo se alterou, devemos aceitar estas mudanças por que fazem parte do progresso e nós, na época tinhamos a idade que exigia desgaste físico bem maior do que agora. Mesmo assim, dá saudade, né?
Seu texto, bem enchuto, gostoso de ler, como se nós, ao invez disso, estivessemos dialogando. E sendo do Braz, melhor ainda. Parabéns, Lia.
Laruccia

Cida disse...

Lia Bia, texto leve, gosto de ler e que nos remete a um tempo que hoje só vive na lembrança dos que o vivenciaram. Um beijo

Cida disse...

***gostoso em vez de gosto***

Miguel S. G. Chammas disse...

Ai que saudades dos meus carnavais de antanho!
Lia, o sangue-de-diabo eu mesmo produzia, a formula me lembro até hoje: 3 partes de água, duas partes de amoniaco e uma capsula de Purgoleite (laxante muito usado na época),faziam 1 litro do demoniaco produto que era o terror dos foliões que trajavam calças ou vestidos da cor branca, também, muito em voga à época.
Valeu ler teu belo texto e lembrar de tempos alegres da Rua Augusta.

Luigy disse...

Lia
Que gostosa lembrança a sua que faz reviver em cada um, a nossa própria vivência.
Muito viva a sua história.
Ai vai a receita que usavamos para fazer o sangue de diabo que era colocada nas bisnagas plasticas: água, uma folha inteira de papel de seda vermelha ( para fazer pipas ou baões) 5 comprimidos de lacto-purga, um vidro de 10 ml de eter e gotas de algum perfurme. Ficava de molho um dia inteiro e com um pedaço de pau fazia-se a mistura. Cada um enchia uma ou duas bisnaga e ia para os farois esperando o farol fechar...caros e onibus c/janelas abertas abertas, eram os alvos. Aquilo pegava no olho e ardia pra caramba. Se caia em roupa branca ferrava tudo.
Voltamos a infância. Parabéns

Soninha disse...

Olá, Bia!

Todos nós ficamos com muita saudade dos velhos carnavais...todos temos as boas recordações das brincadeiras de carnaval de nossa infância e, lendo o seu texto, pudemos reviver aqueles bons momentos.
Valeu!
Muita paz!

Arthur Miranda - tutu disse...

Quem não tem saudades desse carnaval?
Só mesmo quem nasceu depois de 1970, e não viu nem teve oportunidade de participar do mesmo é ou não é, Parabéns (capetissima) Lia.

suely aparecida schraner disse...

Que boas memórias do carnaval da sua infância! Essas meninas eram do barulho! Eu gostei Abraços.

Wilson Natale disse...

LIA: Que coisa mais gostosa eram os nossos carnavais! Era realmente uma festa do povo. E que festa!
Vivemos um tempo que hoje não existe mais.
O Carnaval "enricou", expulsou a"plebe rude";saiu das ruas e foi para a passarela do samba... O gordo rei MOMO mudou, enfartou e "entrou na linha" e perdeu a majestade.
Feliz fomos nós que "comemos" os confetes que nos atiravam na boca, cheiramos o lança-perfume - pelo menos no ar... E mesmo sem a realidade de uma fantasia sobre o corpo, a nossa Fantasia nos vestia no que quséssemos.
Bastava um funil na cabeça para sermos um palhaço; uma máscara de papelão para nos transformar em zorro, arlequim...
Um apito, um velho penico e muita vontade de fazer dançar os pés.
E não tínhamos tantas chuvas! Isso foi antes da cidade cobrir-se de asfalto. Nossas chuvas começavam em novembro -lembra dos ráios que caíam nos Finados? - e seguia amena por dezembro, janeiro e fevereiro, transformada em pancadas fortes que pouco duravam, geralmente ente duas e três horas. Só as famosas chuvas de março não mudavam.
Antes o carnaval era bom. E diferente! Ainda olho para ele com olhares de alegria, nunca de quarta-feira. E naqueles carnavais nós éramos felizez e - o melhor - nós sabíamos!!!
Abração,
Natale.

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Lia, como é bom relembrarmos os carnavais de antigamente, aquí no Ipiranga as brincadeiras sadias com serpentina, confeti e lança-perfume, ficávamos na esquina esperando o bonde passar para "cercá-lo" com serpentina e espirrar lança-perfume nos passageiros, bons tempos, parabéns pelo texto, abraços, Leonello Tesser (Nelinho).

Lia Beatriz Ferrero Salles Silva disse...

Muito obrigada pelos comentários. Era deles que eu estava precisando... e não sabia! Nada como encontrar nossos contemporâneos... nossa turma!
Felizmente meus filhos não puxaram a Lia (que um dia foi criança).
Meu abraço a todos vocês!