segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Na trilha dos elefantes perdidos.

Como começam os contos de fada, era uma vez, num tempo já muito distante, um palácio oriental, cheio de estátuas e arabescos. Coisa das Arábias, das Mil e Uma Noites, ainda que ficasse em Santa Cecília, próximo ao Centro de São Paulo.
Era como se fosse o Taj Mahal, a Shangri-Lá dos cinemas paulistanos. Não importava o filme, embora geralmente fossem muito bons, a sala de espetáculos já era um espetáculo, em si mesma.
O Cine Santa Cecília.
Várias vezes escrevi sobre ele, e assim também outras pessoas, às vezes com versões bastante fantasiosas.
É natural... Seu ambiente estimulava mesmo a imaginação e, embora há muito não mais exista, sua lenda eternizou-se.
Um fato é indiscutível: tinha, em sua sala de recepção, uma grande mesa central, com grandes patas de elefantes. E seus bancos laterais tinham, como descanso de braços, cabeças de elefante, também com suas patas como pés. E indiscutíveis, ao menos para mim, na plateia, suas estátuas de guerreiros tailandeses, cujos olhos fosforescentes, ao som de um gongo, apagavam-se ao iniciar-se a projeção.
Um belo dia, não tão belo assim, o sonho acabou como começara. As estátuas ferozes cerraram, pela última vez,seus olhos luminosos, os elefantes foram sepultados por escombros e poeira, e fez-se um grande silêncio, de espanto e consternação.
E então, acabou-se a história ? Caso encerrado? Não de todo. A gente que lembra, não pode deixar sepultado o tema, e escreve. Então, por sorte, muitas vezes encontra eco, não está clamando no deserto.
Notícias aparecem; os elefantes de mogno não foram sepultados, nem mesmo se reuniram, em seu último adeus, num cemitério de paquidermes.
Como mamutes, foram temporariamente congelados, mas a seguir resgatados. Recebi deles notícias por meu caro Atilio Santarelli, autor de um belo blog de cinema:
Os bancos laterais do Santa Cecília foram por ele vistos, no desativado Cine São Geraldo, na Penha, em 1994. Antes, estiveram armazenados no Cine Universo, também do Circuito Serrador. As proporções eram mesmo mastodônticas: os bancos, forrados em courvin vermelho, tinham 4 m de comprimento e os descansa braços elefantinos estavam em perfeito estado. Elefantes vermelhos, e de tamanho correspondente.
Foram até ele, oferecidos por Vanderlei Cepeda, curador desses bens, mas, onde colocar os monumentais móveis? Eu também não teria lugar.
Conclusão: os elefantes, em obediente manada, rumaram para a fazenda do Sr. Cepeda, e espero um dia vê-los e fotografa-los.
Como na Sibéria, os mamutes voltam a se expor à luz do dia!




Por Luiz Saidenberg

7 comentários:

Miguel S. G. Chammas disse...

Pois é Luiz, eu na minha infânto-juventude, por uma dezena de vezes, troquei as sessões do Circo Pìolim por sessões cinematográficas do velho e saudoso Cine Santa Cecilia, e me lembro muito bem desses paquidermes enormes.
Valeu mesmo a sua recordação.

Leonello Tesser (Nelinho) disse...

Luiz, entrei apenas uma vez no antigo Cine Santa Cecília e foi num sábado à noite junto com um amigo já falecido que residia na região da Rua das Palmeiras, parabéns pelo saudoso texto, abraços, Leonello Tesser (Nelinho).

Soninha disse...

Olá, Luiz!

Que bacana falar sobre os cines de Sampa e sobre este, especialmente, com tão diferente decoração.
Eu não lembro de te-lo frequentado, mas, fiquei com muita vontade. Que pena!
Muito boa sua pesquisa. espero que você possa, realmente, ver estes paquidermes e fotografa-los.
Valeu!
Muita paz!

margarida disse...

Luiz, não conheci essas estatuas nem o cinema. Valeu conhecer um pouco sobre sua historia e o paradeiro dos elefantes. Espero que um dia possa realizar seu sonho, vou gostar muito de ver as fotos. Um grande beijo.

Laruccia disse...

Luiz, não tive oportunidade de estar neste cinema e olha que ia aos cinemas do centro, quase todo fim de semana. Pela sua escrita, imagino a beleza dos arabescos e estátuas que ali existiam. Ficamos com o prazer da leitura de seu texto, imaginando como seria o cinema com essa apresentação. E como sentimos a falta sua e de sua esposa na noite inesquecível de 10\02. Parabéns pelo seu belo texto.
Laruccia

Luiz Saidenberg disse...

Muito obrigado.
Qto às fotos do interior do cinema, creio as verão brevemente, deslumbrados como eu ao recebê-las. Enviei-as à Soninha, e creio que ela as publicará com o respectivo texto. Abraços.

Wilson Natale disse...

SAIDENBERG: Cinemas dá pena até de relembrar. Saber que um dia existiram como verdadeiros palácios e hoje, ou estão funcionando como estacionamentos, garagens, etc. Ou então demolidos, perdidos para sempre.
Seus elefantes seguiram a trilha dos tantos outros a caminho do cemitério dos elefantes. Pena!
E falar desses palácios aos mais novos fica difícil. Como explicar-lhes a importância das arquiteturas, estilos; como fazê-los entender a importância das salas de espera... Efica mais díficil ainda explicar-lhes que o Cinema erapor si só um espetáculo à parte.
Abração,
Natale