Faltavam poucos dias para o carnaval e minha mãe costurava as
roupas que iríamos usar no carnaval.
Nada de fantasias caras, mas lembro da calça de pescador colorida e da
blusa regata feita de tecido branco com detalhes coloridos de sobras que ela
tinha em casa. Tudo
era muito simples, mas para mim era a fantasia mais linda de todas.
A ansiedade era grande quando o carnaval finalmente chegava,
pois não sabíamos se meu pai iria nos levar em algum salão do bairro da Penha.
Após o almoço, minha mãe
é que nos dava a noticia. Que alegria quando a resposta era positiva. Logo a
turma da rua e mais alguns primos estavam prontos na esquina de casa, nosso
ponto de partida. Meu pai contava um a um, porque, além de tomar conta, era ele
que financiava os ingressos para todos.
De fantasias feitas em casa e colares de flores no pescoço,
pés, se não me engano alpargatas coloridas.
Sacos de confetes e serpentinas pendurados no ombro e um sorriso de ponta a
ponta, fazíamos o percurso até o salão escolhido pelo meu pai.
O destino era o Penha Palace, um cinema no Largo Oito de
Setembro, que se transformava em um salão carnavalesco ou então o Clube
Esportivo da Penha cuja quadra de esportes era enfeitada para o grande baile.
Para nós crianças não era tão importante o local, mas a felicidade que
sentíamos ao frequentar a matinê do baile de carnaval.
O salão era dividido por idades e separado por cordas, mas
isso não atingia minha turma, pois éramos todos da mesma idade.
O grito de abertura
com aquela marcha nos emocionava e isto bastava para acendermos nossas luzes e quase
pegar fogo. Rodávamos, pulávamos e cantávamos alegres, sem parar, de mãos dadas
ou não naquele limite do salão, as mais lindas
canções daquela época.
Por fim, depois de quatro horas, novamente a marcha de
encerramento, é chegada hora de partir. Como passava rápido!
Com faces totalmente
rosadas e encharcadas de tanto suor, atravessávamos o largo oito de setembro,
subíamos à ladeirinha, um pouco só na Rua Dr. João Ribeiro e já estávamos na
Rua Antonio Lobo, a rua lá de casa.
Lembro que meus pais também iam ao salão, minha mãe, linda
de nome e de alma, usava um vestido tipo tubinho bem colorido, colar no pescoço
e pintura bem forte. Meu pai, camisa colorida, colar de flores no pescoço e um
chapéu de palha na cabeça.
Pendurados no ombro estavam os sacos de confetes e
serpentinas e nas mãos os tubos de lança perfume, um prateado e outro dourado.
Que época gostosa, nem se passava pela cabeça os perigos do
lança perfume, e nunca ficamos sabendo de brigas ou mal entendidos no salão ou
fora dele, pelo menos lá no meu bairro.
Guardo só alegria desta época e destes momentos que fizeram
parte da minha infância e que tenho fotografado na memória, com certeza hoje são
vistos com as lentes da emoção e o que outrora foi alegria, hoje mareja meus
olhos de saudades.
Com o tempo o carnaval tomou outros rumos e hoje as escolas
de samba dominam com muito charme, arte, beleza e muita criatividade. As
crianças continuam fazendo parte da festa, embelezam os novos tempos e geram
novas emoções.
Assim fazemos a historia, marcada pelas nossas emoções de
ontem e de hoje. Que os pincéis da alegria , neste carnaval, usem as cores do
amor , do respeito, da humildade, da tolerância e tudo mais que for necessário
para que todos possam se divertir como merecem.
Por Margarida Peramezza
13 comentários:
Belas lembranças de velhos carnavais, Marga. Agora, não existem mais, só superproduções comerciais, estereotipadas e globobelezadas. Grande abraço!
Pois é Marga, as coisas não foram pintadasa com tintaas tão suaves este ano; Minha Vai Vai fcoi esbulhada, a apuração foi melada, mas a vida continua não é?
Adorei relembrar os Bailes Carnavalescos de outrora.
Olá, Margarida!
Que bacana lembrar os seus carnavais... Parecidos com os meus, embora eu não curtia muito, desde criança.
Mas, lembro-me que meu amado pai nos levava nos salões lá da Antartica, na Mooca, para as matinês de carnaval e já quando éramos adolescentes, a brincadeira era no Juventus, nas matinês, claro.
Mesmo menina, eu mesma improvisava as fantasias, que sempre eram muito simples e bem fresquinhas, por conta do calor.
Muito legal, Margarida!
Valeu!
Muita paz!
Pois é Margarida, esses carnavais (saudosismo a parte) eram maravilhosos mesmo.
Eram bem diferentes das baixarias desse ano no Anhembi.
Coisa que seria de fácil solução se as apurações fossem feitas em local isolado e apenas com a presença dos apuradores e pessoas que tivessem a ver com o evento, mais 05 representantes da diretoria de cada escola. Ai então os marginais, vândalos, os anti-Sociais, presentes em todas as escolas, ficariam quietinhos em suas casas assistindo a apuração pela TEVE. Para que haver perto de 10 mil pessoas presentes nas apurações ???. Só para dar Briga e arruaças e ocupar bestamente os policiais, que nessa hora poderiam estar policiando nossa querida São Paulo em outros lugares, evitando assim outros crimes contra a população. No caso ocuparia apenas uns 20 policiais. A quem interessa a presença de torcida lotando as dependências do recinto de apurações ? e qual a utilidade dessa presença?????
Amavel e encantador relato carnavalesco com todo esplendor que as crianças adoravam. Na inocência da idade sentia-se um entusiasmo diferente, não formado de sonhos mas, de extraordinária realidade. Parabéns, Marga.
Laruccia
Eu ia fantasiada de colombina e aos 7anos com uma bisnaga de lança-perfume na mão. E não havia corda no meu bloco não. Parabéns pelo belo realto!
Marga, bons tempos dos carnavais de antigamente, o Arthur tem razão, hoje a coisa ficou mercantilizada e as escolas de samba (salvo algumas exceções) estão coalhadas de marginais e vândalos (pricipalmente aquelas que pertencem às torcidas organizadas dos clubes de futebol), é uma pena, abraços, Nelinho.
Muito obrigada pelos comentários. Tenho lembranças lindas dos carnavais de outrora e lamento com muita tristeza as cenas do fechamento deste ano.Esta marca triste vai ficar para sempre.Um grande beijo para todos.
Oi, Margarida, penso que na sua casa devia ser um eterno carnaval.
Lendo seus textos e os da sua irmã, percebi que havia sempre um clima de festa onde vocês moravam (7 filhas... é isso?) rs
Seus pais eram ótimos participando de todos os eventos. Gostaria de ter conhecido essa turma toda! bjs
Lia, eramos em nove filhos e isso já bastava para ser uma festa. Participávamos sim dos eventos, daqueles que meu pai achava que podíamos, da Igreja,da escola e do bairro.Ele fazia carnaval de rua para toda meninada, quando não íamos no salão.Ao lado disso,fomos criados no regime de linha dura. Ele era o grande chefe e só fazíamos o permitido.Nossa base foi carinho, amor e muita união e isso somos até hoje.Tenho certeza que você iria adorar ter vivido bem pertinho da gente.Muito obrigada pelo comentário e um grande beijo.
Peramezza, Peramezza: Não lembro o ano, mas por duas vezes estive no Penha Palace brincando o carnaval - isto lá pelo fim dos anos 50.
E que carnavais nós tínhamos: cantar, pular, fazer cordão do salão; rir, se divertir e suar e, no coração, aquele desejo de que nunca terminasse a "farra"!
Hoje o carnaval existe de fato, mas não de direito. Direito de se sair, como povo, e brincar pelas ruas aquele nosso carnaval tão democrático que vivemos.
Lembro de carnavais "pulados" em quintais de casas onde em uma velha "Victrola" nos dava o som de sambas e marchas de carnavais registradas em velhos discos 78 rotações.
Gostei muuito!
Abração,
Natale
Olá, Margarida, era pura felicidade. E caso o pai não deixasse ir, ninguém ficava frustrado ou se rebelava. Belo texto, querida. Beijos
Natale e Cida, muito obrigada pelos comentários. Quando não íamos no salão, meu pai fazia carnaval de rua. Como o espaço era grande na rua,podíamos nos divertir muito com musica, confetes e serpentinas. Um abraço pra vocês.
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