imagem: Viaduto Santa Efigênia 1913 e 2013
Alguém, Paulista e Paulistano pode me dizer,
em número de quilômetros, o quanto andou, percorrendo, indo e vindo, pelo
Viaduto de Santa Efigênia?
Duvido que alguém saiba... Nem eu mesmo o sei.
Com certeza foram muitos!
Quem, Paulista e Paulistano, hoje, ainda se
lembra dele? Quero acreditar que, muitos ainda se lembram... Que não o
esqueceram.
Mas, ao que parece, a Prefeitura, a Regional
da Sé, a São Paulo Turismo, esqueceram dele.
Amanhã, ao que me parece, o Viaduto de Santa
Efigênia completará os seus 100 anos, sem bolo e sem festa. E sem
convidados...
Sem festa, O MAIS ANTIGO VIADUTO EM USO DE SÃO
PAULO está, como um velho hóspede de um desses depósitos, pomposamente chamados
de Casa de Repouso, à espera de parentes que não virão.
_ “NATALE, VOCÊ SE ENGANOU! O MAIS ANTIGO
VIADUTO DE SÃO PAULO É O DO CHÁ”!
_ “NÃO ME ENGANEI, NÃO! O PRIMEIRO VIADUTO DO
CHÁ (inaugurado em 1892) FOI DESMONTADO Entre 1938-1939, QUANDO O SEGUNDO
VIADUTO, EM CONCRETO, FOI INAUGURADO (1938). E O SEGUNDO VIADUTO AINDA NÃO
CHEGOU AOS 80 ANOS”.
Penso com ironia no ano de 1992, quando se fez
com toda a pompa e circunstância, as “festas de 100 anos” de um viaduto que
tinha pouco mais de 50 anos...
Voltemos ao Santa Efigênia.
Ao contrário do antigo Viaduto do Chá, o
Viaduto de Santa Efigênia é uma obra de arte.
Projeto de Júlio Micheli, parte metálica
importada da Bélgica e montagem a cargo da Firma Lidgerwood Manufaturing Co. Ltd.
O peso do aço dissolve-se, na beleza do
projeto, passando a impressão de leveza. Arcos apoiados em pedra de
cantaria finamente recortada. Os parapeitos da pista é um fino
trabalho de serralheria, estilo “Art Nouveau”. E neles, de espaço em espaço,
afixadas luminárias no mesmo estilo. Nas calçadas, postes em forma de tridentes
sustentando a rede elétrica dos bondes. E, do lado esquerdo de quem vai do
Largo São Bento ao Largo de Santa Efigênia, uma escada levava ao sanitário
público (local onde hoje está o mezanino da estação São Bento do metro). Um dos
primeiros sanitários a ser cuidado, sanitizado e vigiado pela prefeitura.
Viaduto de Santa Efigênia. 100 anos
embelezando a Cidade, poupando a ´população das agruras da Ladeira de São João
e, mais que isso, 100 anos como testemunha da História de São Paulo, como as
Revoluções de 1924 e 1932.
E 100 anos - um século, de sua
história pessoal:
No começo, os bondes eram “os senhores do
viaduto”. Então vieram os automóveis. Velhos “landaus”, “coches” e suas parelhas
foram aposentados. Bondes e automóveis! Bondes, automóveis e – Meu
Deus! – os “Omnibus” (ônibus)!... Bondes, automóveis, ônibus, lotações,
utilitários, motos... Depois Lambrettas, Vespas, Volkswagens, Dauphines,
Gordines, DKWs e, acredite, um trambolho de nome Romi-Izzeta!...
São Paulo, uma cidade evoluída, progressista.
Da pra acreditar que ainda circulam carroças de entrega? Pois é!...
E o Viaduto, através das décadas foi sendo
abalado na sua capacidade estática e rolante, necessitando, cada vez mais, de
reparações onerosas. Quase desativado foi deixado ao Deus dará... As lindas
luminárias desaparecidas há muito tempo, o banheiro em extrema decadência foi
fechado. Agonizava o viaduto.
Durante e depois da construção da Estação São
Bento do Metro, de passagem de pedestre, o Santa Efigênia foi tomado pelos
ambulantes.
Com a revitalização do Vale do Anhangabaú,
cogitou-se o desmonte do Viaduto. O clamor público fez com que o Patrimônio
Histórico reagisse rápido tombando o Santa Efigênia. Restaurado, transformado
em calçadão ele continua lá. Sabe Deus por quanto tempo!
Ele é velho, velhíssimo. Mas é tão
Paulistanamente Paulista. Ele é São Paulo.
Alguém, Paulista e Paulistano pode me dizer,
em número de quilômetros, o quanto andou, percorrendo, indo e vindo, pelo
Viaduto de Santa Efigênia?...
Por Wilson Natale