sábado, 30 de julho de 2016

E tudo terminou em pizza


Desde o início da década de 30, meu pai, Domingos Capuano, trabalhava no depósito de uma grande Papelaria de São Paulo na época. Na década de 40, já como chefe desse depósito, certa vez convidou uns amigos mais chegados para uma pequena reunião em sua residência (Rua Antonieta - atual Comendador Miguel Calfat na Vila Nova Conceição), motivado pelo seu aniversário. Vieram cinco amigos sendo que quatro deles aparentando entre 35 e 40 anos e um com bem menos do que 30, que era entre todos o mais falante e desembaraçado para se expressar. Em certo momento subiu num banquinho que estava no quintal e fez um breve discurso dirigido ao meu pai. Nessa ocasião deveria estar entre oito e dez anos de idade quando presenciei essa cena.
No final da década de 40, em reconhecimento ao excelente desempenho prestado pelos quase 20 anos na firma, o dono da empresa, Sr. Jorge, agraciou meu pai com um bom valor em dinheiro e mais duas vezes esse valor em mercadoria para possibilitar abrir uma pequena Papelaria no armazém que ele havia construído na própria residência. E foi assim que surgiu a Papelaria Martim Francisco que logo em seguida passou para a Avenida Santo Amaro, próximo da residência, tendo permanecido em atividade por 47 anos.
No início da década de 70, entra na Papelaria um amigo do meu pai que não se viam há algum tempo. Logo no início do encontro o assunto predominante não poderia ser outro: Futebol. Como os dois eram "palestrinos", começaram a conversar sobre o Palmeiras. Em dado momento da conversa esse amigo menciona o nome do MILTON PERUZZI, que também era "palestrino". Tive lampejos de ter ouvido do meu pai dizer o seguinte: "- Sim conheço, esteve uma vez na minha casa", Num momento me veio a mente aquele jovem muito falante que subiu num banquinho e fez um breve discurso, mas nunca tive a curiosidade de indagar meu pai sobre o assunto.
Somente há cerca de 5 ou 6 anos tomei conhecimento que a expressão que se tornou famosa no nosso cotidiano por todo o país, principalmente em Brasília: " E TUDO TERMINOU EM PIZZA ", teve como criador o marcante Locutor e Jornalista Esportivo MILTON PERUZZI que, entre outras façanhas, comandou com brilhantismo o programa Mesa Redonda Futebol é com Onze, na TV Gazeta.
Nessa altura meu pai não estava mais entre nós. Fiquei sem referência sobre o assunto. Recentemente surgiu a ideia de consultar a internet e buscar notícias sobre MILTON PERUZZI. Dentre muitos personagens surgiu o nome do Dr Milton Peruzzo Jr. médico cirurgião plástico, que constatei ser filho do MILTON PERUZZI (que na realidade era PERUZZO). Através de um e-mail para contato fiz a seguinte pergunta para o Dr Peruzzo: "... seu pai comentou alguma vez que na década de 40 chegou a trabalhar por algum tempo em uma Papelaria?" Logo no dia seguinte recebi a resposta do Dr Peruzzo: " - Não lembro de meu pai ter citado que trabalhou em Papelaria mas lembro dele ter dito que era amigo de um Capuano ".
Mediante essa resposta enviei outro e-mail esclarecendo a cena do banquinho e do discurso da década de 40 e também do encontro do amigo do meu pai na década de 70 na Papelaria onde foi mencionado o nome do MILTON PERUZZI. Prontamente obtive a seguinte resposta: " - Signore Capuano. Com certeza era meu pai, ninguém gostava mais de falar e discursar como ele... Abraço - Milton Peruzzo Jr ".
Passando a considerar verdadeira a minha presunção e consequentemente considerando terem sido amigos por algum tempo, certamente se encontraram e continuam a conversar sobre o "palestra"... lá no céu, ONDE TUDO TERMINA...EM PAZ!!!


Por Roberto Capuano

quinta-feira, 28 de julho de 2016

O reencontro

imagem: reencontro dos autores com feijoada no restaurante Guanabara em 16.07.2016

Manhã diferente, esta.
Após a feira orgânica para conhecer por onde anda e como anda o nosso mundo, fomos ao almoço.
Passeio pela cidade, calma, estranhamente calma, mesmo para um sábado de inverno, mas calma. Deixo a Silvia no ponto mais próximo possível do encontro, vou ao estacionamento, contorno o Largo do Paissandu, entro no cine Ouro, estaciono o carro. Sinto um piano tocando baixinho, vem o manobrista, entrego a chave, recebo o ticket, há um som de piano tocando baixinho.
Vou ao encontro de Silvia, passei pelo cine Paissandu, vejo o seu constante sorriso, olhamos a vitrine da loja; lembro do Marrocos mais adiante, no quartel do segundo exército um pouco antes, lembranças, de encantamentos e de correrias.
Descemos a São João. Passos lentos, meus passos guiados pelos dela, no ritmo que ela precisa. Foi ali que lanchamos aquela noite depois da reunião, diz ela, foi, respondo, seguimos. Ao nosso lado um alto falante berra como ninguém, chegamos ao prédio dos Correios, lembranças das filas e eu como “boy”, acostumado ao som do bater do carimbador nos selos das cartas. Hoje temos ainda correios, temos menos cartas, quase nenhum carimbador e nunca mais aquele prédio dos correios.
Chegamos. Uma pausa para descansar e eis que vejo a Teresa se destacando na multidão. O sorriso como sempre, a simpatia nunca perdida. Abraços, carinhos, beijos. O vento bate forte, resolvemos entrar, entramos e encontramos já parte dos amigos à nossa espera. A reunião da feijoada se inicia. Novos abraços, caipirinhas, chops, a insubstituível “Tônica” para a Silvia, mais amigos chegam e a mesa se completa. Almoçamos ou não almoçamos ? Almoçamos, mas o almoço é o de menos, o que vale é rever a cada um e ouvir o seu dia a dia, o seu momento, o seu passado, o seu rincão e ficarmos senhores do todo que a cidade nos proporciona ou nos proporcionou um dia. Há o discurso emocionado, a fala macia, o conselho compartilhado, a esperança renovada. Somos um grupo de pessoas fazendo a sua história, e, modestamente, por que não ? fazendo a história desta cidade, a historia deste País. O celular dispara, o facebook se atualiza e tal como nas antigas reuniões tudo se extrai para o bom e para o melhor. Somos um grupo de idealistas sonhando com o sonho dos realizadores, como só estes são capazes de conceber.
Mas, tudo tem um fim e o grupo se dispersa desta vez, ou melhor, um breve hiato, pois estaremos juntos mais vezes. Abraços, recomendações e sobretudo agradecimentos. Somos agradecidos pelo que temos e pelo que somos, lamentamos apenas por aqueles que desconhecem o que temos. A volta é feliz e nostálgica. Estamos satisfeitos, mas queríamos mais. Sempre queremos mais. Um amigo sobe devagar a São João, outra que se perde na multidão, eu e a Silvia voltamos na busca do carro. Faz frio, voltamos ao estacionamento, onde era o cine Ouro. Entrego o ticket e o manobrista vai buscar o carro. Eu olho as paredes, a Silvia sabe o que estou pensando, aperta minha mão como se fosse relembrar comigo. Nosso olhar de cumplicidade revela tudo. Encontramos nossos amigos, estamos felizes, mas há um som de piano tocando baixinho na minha cabeça. Vem o carro. O ruído do pneu abafa o piano, abro a porta e antes de entrar dou uma última olhada para o interior do estacionamento. Vejo o tapete macio, o balaustre de madeira, o porteiro elegante e me sinto como se assistir um antigo filme, fosse. Saímos à rua, o burburinho aumenta e eu calado. A Silvia passa a mão no meu rosto e murmura baixinho : Você também ouviu, não ouviu? Desvio do ônibus que chega muito perto, deixo passar a senhora que atravessou na nossa frente e penso baixinho : É; eu ouvi o piano também. 
Tarde diferente, esta.


Por José Carlos Munhoz Navarro

terça-feira, 26 de julho de 2016

Ganhei um livro

imagem: cedida pela autora

Brasileiro não tem o hábito de ler.
É o que dizem as pesquisas.

Bibliotecas são sisudas. Quem chega lá, ou é para estudar ou para fazer pesquisas. Tudo por obrigação.
É o que dizem as pesquisas.

Esmolas financiam o uso de drogas das crianças  em situação de rua.
É o que dizem as pesquisas.

Crianças e adolescentes arriscam suas vidas com trabalho infantil e mendicância nas ruas.
A ONU Brasil,  falou que são cinco milhões nessa condição. O IBGE não contou. Mistério.
Fogem de casa por conta de violência doméstica e o” escambau”.
Pequenos refugiados urbanos na cidade de São Paulo.
É o que dizem as pesquisas.

A mais cosmopolita de todas? 
Cultural? Maior centro financeiro?
É o que dizem as pesquisas?

Daí que ele chegou  e pediu um dinheiro.
Eu só tinha um livro
Ofereci.
Ele pegou, olhou e sorriu.

Saiu saltitante e gritando pros amigos debaixo do viaduto:
“ganhei um livro, ganhei um livro, ganhei um livro”!

Do desterro pra glória, da agonia para o êxtase.

O que mesmo querem dizer as pesquisas?


Por Suely Schraner

sábado, 9 de julho de 2016

Semana de 9/Julho -- Antonio de Paula Mendonça – Soldado Paulista --


”O Sr. Antonio, de Cristais Paulista, viveu bravamente 95 anos – de 1912 até 2007. Acompanhou os trepidantes acontecimentos da História de S. Paulo por todo o século passado, sempre do ponto de vista de um morador do interior do Estado, região em torno de Franca e Barretos.
Viveu uma vida longa, rica e produtiva. Teve um casamento que durou 72 anos, seis filhos que obtiveram grau universitário e dezenas de netos e bisnetos. Uma exemplar trajetória paulista. Foram homens como este que fizeram do Estado de S. Paulo a 'locomotiva do Brasil', como já disse algum poeta.
Entretanto, talvez o ponto culminante de sua existência, a prova de fogo mais marcante que enfrentou, durou pouco. Aconteceu nos seus 20 anos, quando – durante alguns meses – participou da Revolução Constitucionalista de 32.”
Antonio de Paula Mendonça – Soldado Paulista


Por Douglas Bock

quarta-feira, 6 de julho de 2016

Querido Noel


Naqueles idos, um parto “fórceps” mais  a hipoplasia, te deixaram sequelas. Hoje, um mosquitinho de nada,  anda fazendo estragos nas cabeças dos nenenzinhos. Trata-se do mosquito  que é vetor do vírus zikv  e que causa  a infecção “Zika vírus”.


É, caro cantor e compositor, “deu zica”. Uma zica geral.  Como disse Camões lá atrás,  “a pátria está metida no gosto da cobiça e da rudeza,  de austera, apagada e vil tristeza”. Com certeza,meu poeta,  seu bandolim choraria os mais triste  acordes hoje em dia. Seus desafetos teriam orgasmos cívicos, tripudiando sobre seu talento. 


Seu humor e sua crítica bem humorada, não dariam conta dos comentários ácidos e rasos das tais redes sociais. Aliás, estas, deviam se chamar “redes anti-sociais”.


Noel, é seu aniversário  e eu não deveria estar dizendo essas coisas. Entretanto, sua partida precoce livrou-o de poucas e boas. Fumar? Nem pensar. Todos os fumantes agora são párias. Beber? Só se fôr pedestre. O tal do bafômetro te flagra e é xilindró na certa. Namorar? Transar? Só se for “encapado”. “Com que roupa eu vou? 


Vou me despedindo por aqui. Pra quê mentir, se tu não tens esse dom de saber  iludir? Só me resta pedir ao garçom uma média, um copo d’água bem gelada, que eu não estou disposta a ficar exposta ao sol.


 Suas composições iluminam os meus ais. 

Abraços saudosos.


Por Suely Schraner


terça-feira, 5 de julho de 2016

Matar ou Viver


Este título poderia, muito bem, ser o título de um filme ou de um best seller famoso, mas, no nosso caso, é apenas e tão somente um título apelativo que busca restabelecer a sanidade meio combalida de um canal de comunicação importantíssimo para mim e todos os paulistanos que dele fazem parte.
Estou falando do blog “MEMÓRIAS DE SAMPA” que nesta data completa 6 anos de vida, trazendo em seu bojo os textos de autores paulistanos que tentam preservar as coisas boas de “SAMPA”.
Plagiando as sagradas escrituras, inicio este parágrafo dizendo “No princípio era”, e depois continuo, um site chamado “São Paulo minha cidade”, que promovido sobre a égide política da Prefeitura municipal, chegou aos píncaros da glória mercê aos textos de centenas de paulistanos que ali registraram suas memórias de um passado, recente ou não.
As crises e intempéries sofridas por esse site no transcorrer de sua existência, provocaram preocupação tamanha nos seus colaboradores que não sabiam o que fazer para tentar mantê-lo no ar, servindo de ponto referencial às pesquisas de toda a sorte. Tinha-se a impressão de que de um momento para outro, por um da cá aquela palha dos políticos mantenedores, tudo iria por águas abaixo, destruindo algo que nos era tão alentador e querido.
No auge dessas dúvidas cada vez mais fortes e desalentadoras, surgiu no horizonte uma possibilidade de salvação, Sonia Astrauskas teve a ideia de criar um blog que, mesmo sem querer concorrer ou ofuscar o site, serviria para amenizar a ansiedade dos autores que clamavam por uma solução às diversas paralisações do site.
Nascia, assim, em 2010 o blog “MEMORIAS DE SAMPA”, http://memoriasdesampa.blogspot.com , que atendia a todas as reivindicações dos autores no que tangia à publicação dos seus textos memoriais.
O sucesso veio rápido, a trajetória de textos foi:
2010 = 220 textos; 2011 = 253 textos; 2012 = 131 textos; 2013 = 87 textos; 2014 = 31 textos; 2015 = 13 textos e, finalmente 2016 no dia em que ele completa 6 anos de vida, apenas e tão somente 9 textos, sem contar este que ora escrevo.
Será que os autores ficaram desinteressados ou desmotivados em escrever sobre o tema? Não acredito. O tema é por demais cativante para provocar desinteresses.
Será preguiça? Idade avançada? Falta de criatividade? Não sei explicar, sei apenas que não havendo interesse de participações o blog tende a se extinguir.
Por este motivo é que resolvi denominar este texto como MATAR ou VIVER e lançar o desafio: Vamos abandonar o blog e deixá-lo se extinguir, ignorando todos o esforço e dedicação da sua criadora, ou vamos voltar a participar e  novamente com toda animação e garra de outrora e fazer com ele ressurja do nimbo e volte a nos encantar?
A pergunta fica no ar, que respondam nossos colaboradores.


Por Miguel Chammas

Aniversário do blog


imagem: Viaduto Santa Efigênia, num entardecer chuvoso e belo

Neste último mês de Junho (2016), nosso blog esta completando 6 anos.
Muitos textos, muitas fotos, muitas histórias pudemos ver e ler aqui. Já são 743 textos publicados, recheados de emoções.
Não fosse a colaboração de nossos amados e respeitados autores, esta meta jamais seria alcançada. O blog ainda é o que é, graças aos textos geniais, às histórias fantásticas trazidas por estes escritores, contadores de histórias.
Ao criarmos este espaço humilde era nossa intenção agregar os amigos e amigas, autores do site São Paulo Minha Cidade que, havia algum tempo, estava parado. Hoje, percebo que, mesmo o site tendo voltado à ativa, com seus altos e baixos, os colaboradores do blog continuaram perseverantes também aqui no blog, acrescentando brilho a este trabalho e trazendo novos amigos.
Com o advento do Facebook houve um declínio, significativo, nas postagens. Mas, ainda confio que o nosso trabalho terá valido a pena e continuará a mostrar as belas belas histórias de Sampa.
Sou imensamente grata por tudo isto. E espero continuar recebendo estas histórias maravilhosas de todos os queridos autores deste blog.
Que Deus os abençoe com muita saúde, sempre... Sustentando a todos na palma de Sua mão.
Parabéns a todos!

Muita paz!

Sonia Astrauskas